A chegada da inteligência artificial generativa mudou nossas vidas para sempre, e gerou um alvoroço pela sua capacidade de realizar ações que levavam horas ou dias, em segundos. Ao contrário do que se costuma acreditar, a IA não é uma tecnologia que nasceu com o ChatGPT. Essa ferramenta que cresceu de forma esporádica, veio como uma demonstração pública do que as organizações e empresas fazem há anos.
As conclusões a que chegou o Instituto de Ciência de Dados da Universidad del Desarrollo, em seu segundo diagnóstico sobre a adoção de IA por empresas no Chile, demonstram isso: em 2019, 78% das empresas pertenciam à categoria “outsiders”, ou seja, empresas que não tinham preocupação estratégica ou processos adequados para incorporar IA em suas funções. Mas, em 2022, a categoria foi retirada por falta de empresas que atendessem a esses critérios; a categoria dominante foi “insiders”, ou seja, empresas com altas habilidades de IA, que representaram 50% da amostra.
O uso da IA tem o potencial de trazer muitos benefícios, como aumento da eficiência, maior precisão e tomada de decisão mais rápida. No entanto, seu uso também levanta questões éticas e sociais importantes, preocupações como o potencial de discriminação, a perda de empregos e a concentração de poder e riqueza nas mãos de algumas grandes corporações. Por isso, é essencial adotar uma abordagem ética e transparente para o seu desenvolvimento e implementação. Essa abordagem inclui garantir que os sistemas de IA sejam projetados e treinados de forma a evitar preconceito e discriminação e estejam sujeitos a supervisão e regulamentação apropriadas.
Estar ciente e de acordo
Para garantir a ética na IA, é crucial incorporar o princípio do consentimento informado na coleta de dados. Os usuários precisam estar cientes e de acordo com a forma como seus dados são usados, reforçando assim a transparência e a confiança nesses sistemas. Além disso, educar e conscientizar o público sobre IA não é apenas vital para a força de trabalho, mas também para a sociedade como um todo entender e se envolver com essa tecnologia de forma informada e crítica.
Em relação à responsabilidade e prestação de contas, é essencial estabelecer mecanismos claros que permitam que desenvolvedores e usuários de sistemas de IA sejam responsabilizados por suas ações e decisões. Isso inclui ter procedimentos diretos para lidar com situações de mau funcionamento ou uso indevido da tecnologia.
O verdadeiro impacto
Outra consideração importante é o impacto ambiental e a sustentabilidade dos sistemas de IA. Com a crescente utilização de recursos para operar e manter estas tecnologias, é essencial abordar a sua pegada ecológica e procurar formas de minimizar o seu impacto no ambiente.
A colaboração internacional desempenha um papel crucial no desenvolvimento de padrões e regulamentos éticos para IA, considerando que é uma tecnologia que transcende fronteiras e culturas. As empresas, especialmente as big techs, precisam assumir a liderança não apenas para o uso interno da IA, mas também para acompanhar os clientes que já estão incorporando rapidamente essa tecnologia.
É fundamental alinhar o uso da IA com os valores corporativos, a cibersegurança e trabalhar as diretrizes fornecidas pelas políticas públicas, condutas que estão sendo discutidas, mas que exigem revisão constante.
*Sobre o autor
Daniel Sibille é um advogado que possui experiência internacional. Com mais de 12 anos dedicado exclusivamente em Legal e Compliance, ele é o atual Diretor Sênior de Compliance da Oracle América Latina. Com passagens pela MHM LAW, Novo Nordisk e Almeida Advogados, sua carreira também é marcada pela expertise no desenvolvimento e condução de treinamentos abrangentes para funcionários, equipes de vendas e parceiros de negócios, abordando temas como políticas internas, FCPA, ética empresarial e padrões anticorrupção.
Além de suas contribuições práticas, ele é autor de livros sobre Programas de Compliance e atua como professor convidado em programas de treinamento renomados, incluindo LEC, INSPER, FGV e o Diplomado de Compliance LATAM, patrocinado pela Thomson Reuters.
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