Ziraldo encantou-se. Sábado à tarde, 06 de abril, após a confirmação da morte do autor pela família, teve início um tsunami de carinho (assim definido por uma das filhas do autor): muitas mensagens de afeto nas redes sociais, televisão e outros meios de comunicação, diante da partida do escritor. Aliás, não só escritor, Ziraldo era um ser humano múltiplo: jornalista, desenhista, cartunista, chargista, caricaturista e escritor.
Nasceu em Caratinga (MG), em 1932. era flamenguista e se dizia dono de uma infância muito feliz. Foi atuante durante o regime militar, nos anos 1960 e 1970, com o Pasquim, jornal de resistência cultural à ditadura, do qual foi um dos fundadores. E foi pioneiro dos quadrinhos genuinamente brasileiros com a Turma do Pererê, com publicação pela editora O Cruzeiro, de 1960 a 1964. Seu primeiro livro de literatura infantil foi Flicts, publicado em 1969, mas foi com O menino maluquinho, em 1980, que passou a ser reconhecido como um autor de grande relevância para a literatura infantil brasileira.
Humor, irreverência, elementos nacionais, crítica de costumes, reflexão sobre a realidade, conflitos da infância, desenhos com traços fortes e tão únicos são características que marcam as obras de Ziraldo. Mas é o profundo respeito à criança como sujeito que torna as obras de Ziraldo tão únicas, fazendo com que atravessem gerações: li quando criança, li para os meus alunos enquanto professora, leio com o meu filho na figura de mãe. E como eu, muitos se tornaram leitores com Ziraldo e hoje presenciam isso acontecendo com seus filhos, sobrinhos e netos. É essa relação tão afetiva com a Turma do Pererê, com o Menino Maluquinho, com o Bichinho da Maçã, com a Professora Maluquinha que, sem dúvida, provocou esse tsunami de carinho e comoção, diante da perda do escritor.
O Instituto Ziraldo é atualmente responsável pela preservação das obras do artista. Mas são os leitores que farão da obra do autor um legado indelével. Ziraldo faleceu em casa, por causas naturais, deixando 3 filhos, a esposa, muitos amigos e leitores. Mas foi sem ir. Eis o poder da arte. A arte resiste é imortal.
*Deisily de Quadros é doutora em Estudos Literários pela UFPR e professora da área de Línguas e Sociedade no Centro Universitário Internacional Uninter.