Essa foi a frase que eu disse a um amigo há alguns dias. A ideia não era, de forma alguma, ofendê-lo. Mas, às vezes, precisamos, de forma implícita, explícita, ou até mesmo metafórica, dar um “belo” recado.
O mercado financeiro, assim como a medicina, são campos que, além de serem vastos, estão sempre em constante mudança e avanço.
Sua amplitude faz com que, no fundo, não consigamos saber realmente muito sobre várias especialidades. Um cardiologista excepcional não terá como se dedicar e atingir a mesma excelência como ortopedista. Simplesmente não há como.
Em nosso mundo financeiro é exatamente igual. Um expert em uma determinada classe de Bonds seria o ortopedista especializado em joelho. Já o um gestor de uma determinada estratégia de ações seria o cardiologista.
Às vezes cruzamos com pessoas que não têm a humildade de se colocar dentro de uma realidade razoável. Não que um cardiologista não tenha noção da parte óssea de um ser humano. Mas ele não terá a mesma vivência, análise de casos, cirurgias, entre outros procedimentos, voltados exclusivamente aos ossos.
Da mesma forma, naturalmente, um gestor de um determinado tipo de ativo terá conhecimento geral sobre toda a indústria financeira. Mas se ele não se dedica a uma determinada vertente, ele não será diferenciado.
Hoje o mundo profissional é cada vez mais dos especialistas, e não digo isso apenas sobre finanças. Observo isso em inúmeras indústrias. Mesmo que alguns especialistas possam não parecer especialistas, o que diria que é meu caso.
São 30 anos me especializando em gerir um time de gestores. Diria que gerir, no meu caso, é selecionar, acompanhar, debater, testar, cobrar, harmonizar, manter, entre tantas outras tarefas.
Na prática, não chego nem perto do conhecimento em produtos e áreas especificas que a maioria dos meus sócios e associados possuem. Algo semelhante a um maestro, que, logicamente, pode até tocar um instrumento ou outro, mas não será melhor do que os músicos selecionados para cada instrumento, e nem deveria ser mesmo.
Agora, minha especialidade se confirma quando entrego, por mais de duas décadas, resultados consistentes, especialmente por ter conseguido reunir um time de notáveis.
Um dos meus principais sócios aqui em NYC, Danilo Santiago, é um exemplo. Engenheiro formado pela POLI-USP, depois de alguns empregos sem tanta relevância, foi para a Mckinsey ainda em São Paulo. Anos depois, com o patrocínio da empresa, fez seu MBA em Columbia nos anos 90, quando isso era bem mais incomum do que hoje em dia. Formado, assumiu uma importante posição na Mckinsey em NYC. Suas realizações na área global de Corporate Finance o fizeram ser contratado, anos depois, por um grande Hedge Fund local.
Por estarmos em uma indústria em que, de fato, as mentes mais brilhantes são reconhecidas, Danilo se projetou como um dos mais importantes gestores de ações americanas, fruto dos seus resultados.
Mais alguns anos e montou seu primeiro fundo próprio, que vendeu por uma baba (muito dinheiro), e, há anos, faz parte do meu time. Falo isso com orgulho, pois, contar com um dos 10 profissionais mais reconhecidos de Wall Street não é pouca coisa.
Logicamente o fruto da união vem pela junção de vários aspectos, como confiança, respeito, admiração, e, logicamente, convergência de interesses. Mas o ponto de hoje é a especialização.
Danilo acompanha há mais de duas décadas uma carteira de apenas 65 empresas cotadas nas bolsas americanas. Mais nada. Não é o homem de tech, não é o homem de Bonds, ou REITs. É um cara de american equities, com um modelo racional estratégico por ele construído, que o levou a bater, por vários anos, inúmeros índices.
Por isso o questionamento que eu deixo é: qual é ou será sua especialização?
Sua especialização, às vezes, se constrói naturalmente, por meio das oportunidades que surgem em sua jornada. Mas já se observa que os profissionais mais bem sucedidos tiveram interferência direta na escolha e construção de suas especializações. Foram iniciativas planejadas e intencionais.
Nenhuma escolha é definitiva e única. Mas gostaria de encorajá-lo a refletir, escolher e perseguir sua especialização. Seja em qual área você atuar.
*Bruno Corano é empresário, investidor, economista formado pela UPENN – Universidade da Pennsylvania, socio controlador da Corano Capital NYC, maior gestora privada brasileira nos EUA.
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NEIDE LIMA MARTINGO PEREIRA
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