*Este conteúdo foi produzido em parceria com a PretaHub, entidade de apoio ao empreendedorismo negro por meio de programas de capacitação e de investimento.
A empresária Adriana Barbosa, de 47 anos, começou seu negócio por necessidade. Em 2002, com um diploma de Gestão de Eventos nas mãos, mas desempregada, a paulistana e uma amiga passaram a vender peças de roupas, suas e de conhecidos, que estavam encostadas no armário. A ideia evoluiu para um brechó itinerante por várias feiras alternativas de São Paulo.
Até que um arrastão na Vila Madalena, na zona oeste, levou embora quase todo seu estoque. Para se reerguer, ela teve a ideia de focar suas vendas em pessoas negras, com os mesmos gostos e interesses que ela. Adriana já tinha visto o potencial de expositores pretos e decidiu apostar.
Com o apoio de R$ 3.500 da Unilever, que estava lançando os primeiros produtos para pele negra no País, ela reuniu 40 expositores e organizou um evento na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Nascia a Feira Preta, ação para incentivar negócios de empreendedores da comunidade negra. Foram seis mil pessoas só na primeira edição.
A feira cresceu. Em 21 anos, mais de 250 mil pessoas e 3 mil empreendedores do Brasil e de outros países da América Latina já passaram por lá. As vendas de produtos e serviços de afroempreendedores geraram mais de R$ 15 milhões.
Hoje, a feira passou a ser um dos braços da plataforma PretaHub, que procura acelerar o empreendedorismo negro oferecendo suporte, investimento, visibilidade e oportunidades. Financiada a partir de doações de empresas privadas, agências internacionais e programas de financiamento público, a PretaHub investiu mais de R$ 11 milhões para ajudar empreendedores.
A trajetória da Adriana, como uma das pioneiras de um empreendimento econômico-cultural com caráter étnico, ganha relevância internacional. A menina que nasceu na Saúde, numa das pouquíssimas famílias negras do bairro da zona sul de São Paulo, faz parte de uma lista da revista americana Time de 18 pessoas que se destacam no combate à desigualdade racial no mundo. Na edição de 1.º de fevereiro, a brasileira foi selecionada ao lado de nomes de destaque mundial, como a atriz e escritora americana Issa Rae, capa da edição, e a ativista e designer canadense Aurora James.
“É uma honra e um reconhecimento do trabalho árduo que tenho dedicado à causa. É uma oportunidade única de amplificar a voz contra a desigualdade racial e promover mudanças significativas na sociedade. Este reconhecimento me motiva ainda mais a continuar pelo reconhecimento de milhares de empreendedores negros”, afirmou Adriana ao Estadão.
Sob o título “Adriana Barbosa cria mercados para empreendedores afro-brasileiros”, a publicação americana destaca, por exemplo, o início da trajetória da brasileira. “Aos 20 anos, Barbosa, que sempre se empolgou com tudo, desde os filmes de Spike Lee até o ativismo dos ‘Panteras Negras’, criou o Festival da Feira Preta, tanto para pagar as contas quanto para celebrar a cultura negra”.
A publicação sublinha ainda que a disparidade de riqueza entre pessoas brancas e negras é acentuada no País. Para exemplificar, a revista menciona que a renda dos trabalhadores brancos é 74% superior em comparação à de trabalhadores negros, em média, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A revista também destaca as dificuldades. “O financiamento tem sido um problema. Um bairro branco impediu que o festival se realizasse nas suas ruas, diz ela. Algumas receitas de bilheteira foram roubadas. Mas Barbosa está determinada a manter tudo funcionando; o festival já atraiu mais de 200 mil visitantes ao longo dos anos e se transformou em um dos maiores eventos de cultura negra da América Latina.”
Feira Preta muda de data e será em maio
Adriana afirma que o empreendedorismo negro vai além da experiência da escassez e da falta de alternativas de geração de renda. Nesse contexto, a PretaHub procura promover a diversidade em setores criativos, como moda, arte, música e tecnologia, destacando o caráter inovador das comunidades negras, diz Adriana.
“Ao se enquadrar na economia criativa, o empreendedorismo negro se torna uma poderosa ferramenta para transformar perspectivas e quebrar estereótipos”, diz a empresária. “A criatividade e inovação inerentes à economia criativa oferecem oportunidades únicas para destacar talentos negros, promover narrativas autênticas e contribuir para uma representação mais equitativa na sociedade”.
Neste ano, a Feira Preta, maior evento do empreendedorismo negro da América Latina, terá grandes mudanças. A principal delas é a data em que será realizada, passando de novembro para maio. Com o tema “Ser Feliz é a Nossa Revolução”, a 22.ª edição será realizada de 3 a 5, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
“A decisão de ir para o mês de maio tem o objetivo de construir outra narrativa para um período onde pouco se fala sobre as potências negras, convocando o mercado a incentivar eventos voltados à comunidade durante todo o ano”, explica Adriana.