A alta da taxa Selic em 0,25 ponto percentual, passando de 10,50% para 10,75% ao ano está diretamente relacionada a questões técnicas e decisões administrativas ou políticas que afetam a economia e podem gerar consequências inflacionárias. Em momentos de pressão econômica, a elevação da Selic é uma ferramenta usada para controlar a inflação, mas traz efeitos colaterais significativos.
É importante destacar que a divisão de votos entre os oito diretores e o presidente do Banco Central, que compõem as nove cadeiras de decisão do Copom, reflete tanto questões técnicas quanto políticas de cada integrante. Isso significa que a decisão de aumentar a taxa não foi baseada apenas em números ou eventos econômicos, mas também em análises políticas e sociais. Recentemente, vivenciamos quedas constantes na taxa. Esses ajustes indicam que a economia apresentou sinais de crescimento, mas agora enfrenta desafios que tornam o aumento da taxa uma medida necessária.
Basicamente, uma taxa Selic maior, transfere investimentos em matéria-prima e infraestrutura (maior giro da economia) para títulos de dívida e renda fixa, fazendo com que menos dinheiro circule na economia, reduzindo a possibilidade de aumento da inflação, mas alimentando uma recessão.
Para a indústria, o aumento da Selic é problemático, pois reduz a capacidade de investimento tanto por parte dos empresários quanto dos consumidores. Uma Selic elevada aumenta a especulação financeira, reduz a expansão das atividades econômicas e inibe a geração de empregos. O impacto negativo não se limita à indústria: todos os setores são afetados, pois a alta da Selic costuma retirar dinheiro de circulação e redirecioná-lo para investimentos em renda fixa. Isso diminui os negócios e afeta diretamente a criação de novas vagas de trabalho.
Com menos empregos, ocorre uma queda no consumo e, consequentemente, na arrecadação de impostos. Isso cria um ciclo vicioso, no qual a redução da atividade econômica pressiona o governo a aumentar alíquotas tributárias, para tentar manter a arrecadação. No entanto, essa estratégia costuma ser ineficaz. Ao aumentar um tributo, a renda do trabalhador não aumenta; pelo contrário, sua capacidade de consumo diminui, obrigando-o a trocar um produto por outro. É como se ele precisasse deixar de comprar o feijão da cesta básica para arcar com o aumento no preço da passagem de ônibus, devido ao imposto elevado.
Em resumo, quem perde com a alta da Selic é toda a economia, incluindo o próprio governo. A renda da população é o motor que impulsiona a indústria, o comércio e os serviços, e é dela que provém a maior parte dos tributos.
É importante destacar que as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária) são baseadas em critérios técnicos. Reduzir a Selic não é viável em um cenário de desvalorização constante do Real em relação a outras moedas, aumento do risco país, fuga de capitais estrangeiros (desde 2020) e persistente pressão inflacionária, agravada pelos elevados gastos governamentais e o aumento nos preços de combustíveis, energia e alimentos. Adicionalmente, eventos climáticos como queimadas e inundações também afetam a economia – cenário comum em 2024.
Portanto, a alta da Selic reflete a necessidade de estabilizar a economia. Ela é uma resposta à complexa dinâmica econômica, funcionando como um mecanismo de controle – como uma multa aplicada no trânsito: a responsabilidade pela sua imposição recai sobre quem criou as condições que levaram a ela.
*Daniel Weigert Cavagnari, economista, Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação. Coordenador dos cursos de Gestão Financeira da Uninter.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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