Cinco anos após o rompimento da barragem da Vale que vitimou mais de 270 pessoas e causou um grande desastre em Brumadinho (Minas Gerais), o Fórum Animal avalia que o cenário continua preocupante com o risco de tragédias como essa.
Além da perda das vidas humanas, do dano ambiental e material com o desastre, há também a destruição de incontáveis vidas de animais – seja da fauna silvestre, sejam animais domésticos (como cães e gatos) e animais em situação de fazenda (como cavalos, bois, vacas e galinhas).
As perdas foram inestimáveis e múltiplas, na avaliação da diretora técnica do Fórum Animal, Vânia Nunes, que é médica veterinária e atuou na região de Brumadinho, na época. “As pessoas perderam tudo, perderam a família, perderam amigos, perderam a relação que existia como comunidade”, lamenta.
Não é possível calcular quantas vidas não-humanas foram perdidas – não havia um censo, um monitoramento ou um estudo que apontasse com precisão a população de animais na região. “A região tinha sítios e chácaras. Então animais domésticos que foram atingidos, em sua maioria, são cães e gatos. Mas há também bovinos, equinos, outros animais que faziam parte do convívio da região, que foram comprometidos ou vieram a óbito”, diz a diretora.
Poder Público ineficaz
Na avaliação da diretora técnica, mesmo cinco anos após uma tragédia dessa magnitude, o Poder Público não tem sido capaz de cumprir nem de fazer com que as empresas cumpram protocolos de prevenção a desastres e planos de contingenciamento. “Existe má gestão, falta de previsão de recursos orçamentários para essas ações, e a crise climática piora tudo isso”, reflete.
O número de desastres ambientais, como inundações, tem crescido muito nos últimos anos, pondera Vânia. “Em geral, os mais atingidos são os que já vivem em áreas de vulnerabilidade. Por exemplo, em Minas Gerais, muita gente vive com uma bomba-relógio com relação às barragens de mineradoras, como em Congonhas [município cercado por 24 barragens]. Então, o monitoramento e a busca de alternativas para evitar que essas situações ocorram é fundamental”.
Formação do GRAD
A atuação direta ou indireta de médicos veterinários, bombeiros, policiais, protetores de animais e voluntários no desastre de Brumadinho serviu para sedimentar o caminho da formação do GRAD (Grupo de Resgate de Animais em Desastres), explica Vânia.
“Já tínhamos vontade de organizar esse trabalho, e foi por conta de tudo que a gente viu em Brumadinho que a gente achou que era hora de formar o GRAD”, relembra a diretora, sobre o projeto vinculado ao Fórum Animal.
Um balanço no site do GRAD aponta que foram resgatados mais de 400 animais entre 25 de janeiro e 07 de fevereiro de 2019, e que a equipe do Grupo de Resgate contou com 7 médicos veterinários, 5 bombeiros civis e 10 auxiliares veterinários em sua atuação.
A atuação do GRAD contou com parceria da Defesa Civil, do Ministério Público, do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG), da Polícia Rodoviária Federal, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Corpo de Bombeiros Militares de Minas Gerais, além de uma série de clínicas veterinárias, lares temporários e ONGs de proteção animal.
“Em Brumadinho, a gente percebeu que o que tínhamos vivido no desastre de Mariana tinha servido de aprendizado, porque as pessoas estavam mais preparadas”, pondera Vânia, com o cuidado de evitar minimizar o sofrimento que as pessoas viveram na tragédia ocorrida anos antes, em Mariana.
A diretora técnica pondera que a atuação do GRAD e do Fórum Animal em Brumadinho esteve muito centrada no resgate de animais, na atenção à saúde e em cuidados básicos com os animais das populações atingidas.
“Nós também atuamos bastante no diagnóstico da situação em relação aos animais, em sobrevoos para identificar animais presos na lama, em avaliações nas propriedades do entorno que existiam. Situações de desastre, especialmente em um caso complexo como o de Brumadinho, são situações inesperadas, em que não há um padrão de ação”, explica.
Dificuldades
Vânia pondera que as maiores dificuldades estavam em ter acesso aos locais onde os animais estavam, porque era enorme a quantidade de rejeito depositado. “Eram necessários vários dias para conseguir chegar até esses locais e fazer o atendimento”, lembra.
Ela recorda que a Anclivepa (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais) chegou a montar um mini-hospital veterinário, que foi de grande auxílio nos resgates.
“Houve casos, por exemplo, de bovinos que ficavam 4 ou 5 dias aguardando resgate porque não era possível retirá-los. O helicóptero ia com veterinários, que levavam comida e água para os animais e ia-se planejando como fazer esse resgate.A parte líquida do rejeito ia sendo drenada, até que se conseguisse criar as condições adequadas”, detalha Vania.
Sobre a entidade:
O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (Fórum Animal) é uma organização fundada há 23 anos visando reunir ativistas e fortalecer ações para a proteção de todas as espécies animais. Construiu uma rede de apoio a outras ONGs por todo o país, com mais de 100 organizações afiliadas que atuam pela defesa do meio ambiente e a proteção animal, prestando apoio técnico e lutando pelo reconhecimento da senciência e dignidade animal.
É formada por uma equipe multidisciplinar, incluindo médicos-veterinários, pesquisadores, especialistas em marketing, comunicação, gestão de projetos, advogados e biólogos. Com a missão de proteger os animais em todo o país, sem distinção de espécie, trabalhando para que eles sejam respeitados como seres sencientes, e lutando para reconhecer a dignidade animal.
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