O conhecimento humano acompanha a nossa existência desde quando a humanidade desceu das árvores e começou a andar em pé há milhares de anos. Vieram as ferramentas, de início, rudimentares, a agricultura, o manejo do fogo, da água, das construções, dos transportes, da energia, das armas e por aí vai.
Este conhecimento, produto da inteligência humana, se organizou muito mais a partir da ciência e da tecnologia. É claro que este desenvolvimento cognitivo serviu para ajudar a humanidade a conquistar o progresso e o bem-estar geral e individual, mas, também, se prestou para guerras, exploração social, colonialismo e extermínio. Assim tem caminhado a humanidade.
Algumas destas descobertas tiveram grande impacto e produziram enormes saltos no desenvolvimento humano. Foi assim com o manejo do fogo, a invenção da roda e do arado, a astronomia, que descobriu que a Terra é redonda e que gira em torno do Sol, a invenção da máquina a vapor, a descoberta da eletricidade, o motor à combustão, da energia nuclear, da internet e muitas outras.
Nas últimas décadas, a velocidade e a quantidade de descobertas científicas e tecnológicas ganharam proporções colossais. Nenhum de nós, no geral ou em nossas áreas, consegue acompanhar o número de novidades acrescentadas ao conhecimento, tamanha a imensidão das conquistas. Mas, nos tempos de hoje, tivemos duas criações humanas que chegaram como uma bomba sobre nossas cabeças e nossas consciências: as redes sociais e inteligência artificial.
De 40 anos para cá, podemos afirmar que as “ideologias morreram” no nosso mundo, ou pelo menos, submergiram. O mundo avançou na globalização da política, da economia e das relações sociais.
O sistema econômico-financeiro ganhou uma dimensão global e o dinheiro está cada vez em menos mãos, produzindo uma desigualdade extrema que se reverte em uma exclusão social vergonhosa.
Sabemos que os seres humanos vivem de bens materiais cada vez mais exigidos, mas não podem viver sem os sonhos, que são a poesia da vida. Sem bens materiais, não conseguimos viver, mas sem sonhos nossa vida vira do avesso e produz grandes transtornos existenciais.
Podemos afirmar que, nos tempos atuais, a humanidade perdeu seus sonhos. Pelo menos o coletivo, aquele sonho de felicidade coletiva na sociedade.
O individualismo, o caminho solitário e o descaso pelo outro tem imperado entre os seres humanos, em particular, entre os jovens. Sim, essa tem sido a realidade.
Acrescenta-se a isso o advento das redes sociais e da Inteligência Artificial, somadas às ameaças ambientais, mudanças climáticas no Planeta e teremos a receita exata do stress dos humanos hoje.
O Mundo se dividiu em três partes: os “conservadores”, apegados às raízes do passado, os “progressistas”, que perseguiam o futuro, e a parcela de “céticos e descrentes”, que lutam para comer e sobreviver.
Mas, hoje, essa tripartite tem uma coisa em comum: o medo do futuro, ainda tão ameaçador. Por isso, todas as três partes humanas acima se voltam para o porto seguro do passado.
Os “conservadores” se apegam às pautas morais e de costumes. Investem contra tudo que os “ameace”, como o feminismo, os LGBTQIA+, a liberdade de costumes e outros tantos.
Os “progressistas” se agarram às pautas identitárias, como a igualdade social, de gênero e outros. E os “céticos e descrentes” navegam de uma pauta à outra pela vida afora.
Os humanos voltaram-se para dentro de seu mundo, já que o mundo lá fora só lhes mostra uma cara hostil e desconhecida.
Mergulham em um individualismo medroso onde o seu computador e o seu celular são partes de seu corpo e de sua alma. Se degladiam em causas que não tocam nas verdadeiras origens de seu sofrimento existencial.
Assim, a concentração de renda obscena, a fome, a exclusão, a degradação ambiental galopante do Planeta, a violência urbana e rural, advindas de uma criminalidade crescente, as agressões de um povo contra o outro, que permeiam o Século XXI, parecem um mundo virtual, que é disfarçado e mergulhado na angústia e no medo que as pessoas têm do porvir.
Os sonhos precisam voltar para as nossas vidas.