Há muito tempo se debate sobre traumas de infância e suas consequências, mas os “achismos” e a falta concreta de informação tiveram que se render à pesquisa.
Hoje em dia há muita banalidade quanto ao que realmente significa o trauma – quem sofre com ele, como um evento traumático afeta um indivíduo, principalmente uma criança, quais as consequências disso ao longo da vida e quais os cuidados após ter experimentado um trauma.
Chegamos a uma dessensibilizaçao quanto ao assunto porque até parece que TUDO VIROU TRAUMA. E não é incomum ouvir que todo mundo já vivenciou algum trauma nas suas vidas. Mas será que é tão simples assim?
De um lado os impactos e efeitos da violência, guerras, disputas, abusos, acidentes, mortes, lutos, catástrofes naturais etc. E por outro lado, profissionais ainda engatinhando no mundo do trauma, sem saber exatamente como acompanhar as exigências da vida moderna e sem saber muito sobre os efeitos de tudo isso no cérebro, no corpo, na vida e nas relações afetivas e profissionais.
Um trauma físico parece mais fácil de identificar e cuidar, pois há uma marca, uma cicatriz visível, uma chapa de raio X ou um CT-Scan que mostra o que houve e o que fazer para cuidar. Mas como ver as cicatrizes e marcas do trauma emocional, verbal e psicológico? Como saber onde se registrou o abuso, a negligência, os insultos verbais, o descaso e o desamor? Onde está guardado o luto?
Como arquivamos as dores emocionais de um divórcio, da perda de um ente querido e de simplesmente ter observado anos de abuso físico, verbal e emocional dos nossos pais? Como vamos mensurar onde está a dor de se ter sido abusado sexualmente na infância? Será que alguém pode ver as cicatrizes emocionais no corpo de uma criança que foi sequestrada?é o que questiona a psicóloga e especialista em traumas Dra.Karina Chernacov .
Um estudo revolucionário da Universidade de Essex revelou que o trauma infantil pode alterar significativamente a configuração do cérebro, resultando em impactos duradouros na saúde cognitiva e emocional. Esta pesquisa, considerada a maior do gênero, destaca a necessidade crítica de intervenção precoce e apoio para crianças que vivenciaram traumas. Com embasamento teórico sólido, dados empíricos e um guia prático para a realização rápida de intervenções clínicas, o estudo sublinha a importância de ações imediatas para mitigar os efeitos negativos do trauma infantil.
A equipe de pesquisa, liderada por neurocientistas da Universidade de Essex, realizou extensas varreduras cerebrais e avaliações psicológicas em milhares de participantes que passaram por diferentes graus de trauma na infância. Suas descobertas indicam que experiências traumáticas durante a infância podem levar a mudanças estruturais e funcionais no cérebro.
Uma das descobertas mais significativas foi a alteração na conectividade entre diferentes regiões cerebrais que afetam áreas responsáveis pela regulação emocional, tomada de decisões e resposta ao estresse. Especificamente, o estudo observou que indivíduos que vivenciaram trauma infantil apresentavam diferenças no córtex pré-frontal e na amígdala, áreas críticas para o processamento de emoções e manejo do estresse.
A reconfiguração cerebral pode tornar a pessoa mais suscetível a ansiedade, depressão e outros distúrbios psiquiátricos. Também pode afetar funções cognitivas como atenção, memória e função executiva, impactando potencialmente o sucesso acadêmico e profissional.
Os autores do estudo enfatizam a importância de uma intervenção precoce para crianças que vivenciaram traumas. Oferecer apoio psicológico e intervenções terapêuticas pode ajudar a mitigar alguns dos efeitos adversos no desenvolvimento cerebral. O tratamento precoce pode promover resiliência e melhorar os resultados a longo prazo para essas crianças. Essas descobertas destacam a necessidade urgente de cuidados informados sobre trauma em escolas, ambientes de saúde e comunidades.
Uma intervenção precoce, ajuda a prevenir possíveis transtornos psiquiátricos, ajuda na regulação emocional, normaliza o desenvolvimento cerebral, apoiando melhores resultados cognitivos, cria-se condições mais favoráveis para a saúde física, melhora o funcionamento social, e evita-se problemas comportamentais.
Dra. .Karina Chernacov acrescenta que à medida que nosso entendimento se aprofunda, é crucial que os formuladores de políticas e profissionais levem essas descobertas em conta para criar ambientes de apoio que promovam a cura e o crescimento das crianças afetadas. Afinal, as crianças crescerão, e se tornarão os adultos que vão estar no meio de todos nós.
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Samantha di Khali Comunica
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