A busca incessante por coisas materiais quando somos mais jovens dá lugar a simplicidade do bem estar físico e emocional – coisas que realmente importam na terceira idade. Entre os elementos essenciais para os mais experientes, ter uma saúde plena é sinônimo de qualidade de vida.
Nessa fase onde os indivíduos, em média, já tem mais passado do que futuro, a nostalgia daquele “tempo bom que não volta mais” é cada vez mais latente e conflita com as oportunidades de quem não tem tempo a perder. Assim como os cabelos brancos e as rugas, nesse estágio da vida, as dores no corpo são cada vez mais frequentes.
Falando especialmente em dor crônica, a questão assombra um terço da população adulta mundial – três em cada dez pessoas. A dor, que é caracterizada pela persistência superior a mais de três meses, pode ser causada por uma variedade de condições, incluindo artrite, lesões nervosas, doenças degenerativas e infecções virais, entre outras. Na terceira idade, é comum que os idosos enfrentem múltiplos fatores que contribuem para a dor crônica, como o desgaste natural do corpo, doenças crônicas e a diminuição da capacidade de regeneração dos tecidos.
Esse tipo acentuado de dor pode ter um impacto profundo na qualidade de vida dos idosos, limitando sua capacidade de realizar atividades diárias, afetando o sono, o humor e até mesmo levando à depressão e ao isolamento social. Entre as diversas causas de dor crônica que afetam os idosos, a neuralgia pós-herpética (NPH) é uma condição particularmente debilitante e intrigante. Esta condição, muitas vezes, é desencadeada pelo vírus da herpes zoster – o mesmo responsável pela catapora – que permanece latente no corpo após a recuperação da infecção inicial.
A neuralgia pós-herpética é uma forma de dor neuropática crônica que ocorre após uma infecção de herpes zoster. O herpes zoster, ou “cobreiro”, é uma infecção viral que resulta da reativação do vírus da varicela-zoster, que permanece latente no corpo após a ocorrência da catapora. Quando o sistema imunológico enfraquece, seja devido à idade avançada, estresse, doença ou outros fatores, o vírus pode se reativar e causar o herpes zoster.
Após a fase aguda do herpes zoster, que é caracterizada por erupções cutâneas dolorosas e bolhas, algumas pessoas desenvolvem neuralgia pós-herpética. Esta condição é caracterizada por dor intensa e persistente ao longo dos nervos afetados pela infecção viral. A dor pode ser descrita como queimação, formigamento, choque elétrico ou dor lancinante e pode ser desencadeada por estímulos leves, como o toque ou o vento.
O diagnóstico da neuralgia pós-herpética muitas vezes é baseado nos sintomas relatados pelo paciente e na história clínica da infecção por herpes zoster. No entanto, pode ser desafiador distinguir a NPH de outras condições que causam dor neuropática, especialmente em idosos que podem ter múltiplas fontes de dor crônica.
O tratamento da neuralgia pós-herpética geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir medicamentos para dor, como analgésicos, antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes e opioides em casos graves. Além disso, terapias não farmacológicas, como acupuntura, fisioterapia, bloqueios nervosos e estimulação elétrica, podem ser recomendadas para ajudar a aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida.
A prevenção da neuralgia pós-herpética começa com a prevenção do herpes zoster. A vacina contra o herpes zoster, que é recomendada para adultos com mais de 50 anos, pode reduzir significativamente o risco de desenvolver tanto o herpes zoster quanto a neuralgia pós-herpética em indivíduos mais velhos.
Para aqueles que já estão lidando com neuralgia pós-herpética, é essencial um manejo cuidadoso da dor em conjunto com o tratamento médico adequado. Além disso, o apoio emocional e psicológico também é fundamental no manejo da dor crônica, especialmente em idosos que podem enfrentar isolamento social e depressão devido à sua condição.
A dor crônica, especialmente quando associada à neuralgia pós-herpética na terceira idade, representa um desafio significativo para a saúde e o bem-estar dos idosos. O diagnóstico assertivo do profissional começa na primeira conversa, pois cada paciente é único, cada história de vida é inédita e, portanto, cada prescrição médica é peculiar. Nenhuma fórmula, procedimento padrão ou inteligência artificial será mais eficaz que bons ouvidos e respeito com quem entra pela porta de um consultório.
*Diego Daibert Salomão de Campos é neurocirurgião (membro titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia) com área de atuação em dor (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia/ Associação Médica Brasileira). Formado em Fonoaudiologia pela Universidade Católica de Petrópolis e em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora, o médico tem o propósito de transformar vidas.