As alterações climáticas estão em pauta há tempos, assim como a urgência de discutir produção consciente, sustentabilidade e medidas de controle para desastres naturais. O tema é alarmante: essas mudanças provocam variações nas estações, aumentam a frequência de desastres naturais e promovem a proliferação de pragas, elevando significativamente os custos de cultivo, energia e transporte de insumos. Nesse contexto, as mudanças climáticas emergem como um fator crítico na determinação dos preços dos alimentos em todo o mundo, impactando diretamente a produção agrícola e a acessibilidade dos produtos. Há, ainda, que considerar que essa inflação alimentar afeta especialmente os mais vulneráveis, que já enfrentam dificuldades para acessar uma dieta variada e saudável.
No Brasil, a conexão entre o setor agrícola e a estabilidade climática se torna cada vez mais evidente à medida que fenômenos climáticos extremos se tornam mais frequentes. Esses eventos agravam a inflação resultante de choques na oferta, elevando preocupantemente os preços devido à escassez de produtos alimentícios. Essa inflação é difícil de ser controlada apenas por ajustes nas taxas de juros. Assim, com a intensificação das mudanças climáticas, a inflação alimentar não só compromete a segurança alimentar em diversas regiões, mas também pode transformar hábitos alimentares, exacerbando desigualdades socioeconômicas.
Neste contexto, a resiliência dos produtores de alimentos enfrentará grandes desafios se as variações climáticas, como períodos extremos de calor e frio continuarem a impactar o país. Essa pressão sobre os preços afeta uma variedade de produtos, especialmente os cítricos, como laranjas e limões, cuja produtividade pode ser seriamente comprometida por condições climáticas secas e instáveis, influenciando o tempo de colheita. Ainda, essas condições também favorecem a disseminação do Cancro Cítrico, uma doença bacteriana causada pela Xanthomonas citri e transmitida pelo inseto Psilídeo. O Cancro Cítrico é particularmente devastador, pois provoca manchas nas folhas, frutos e ramos, levando à queda prematura dos frutos e redução da qualidade da colheita. A doença já está presente em todas as regiões produtoras do estado de São Paulo e causou a erradicação de mais de 2 milhões de árvores, impactando severamente a produção local.
Concomitantemente, esse cenário se agrava quando consideramos as queimadas que ocorreram nos últimos meses no Brasil, em meio à pior seca dos últimos 70 anos. As projeções do Índice Integrado de Seca (IIS) indicam que essa situação deve se intensificar nos próximos meses. As queimadas e a seca, que afetam os principais biomas do país, já resultaram em um aumento significativo nos preços dos alimentos, com uma inflação prevista de 6,3% até o final do ano, segundo um estudo do Bradesco. Economistas relatam que os preços dos alimentos in natura acumularam uma alta superior a 10% nos últimos 12 meses até agosto. Nesse mesmo período, os preços dos cereais dispararam quase 20%.
Diante desse cenário é fundamental refletirmos sobre a conexão entre mudanças climáticas, segurança alimentar e desigualdades sociais. A realidade que enfrentamos exige uma resposta coletiva e urgente, com ênfase em práticas agrícolas sustentáveis e políticas públicas eficazes que visem mitigar os impactos das variações climáticas. Além disso, a conscientização da sociedade sobre a importância da produção consciente e do consumo sustentável é fundamental para construir um futuro mais equitativo e seguro para todos. Se não agirmos agora, as consequências para a saúde e o bem-estar das populações mais vulneráveis podem se tornar irreversíveis. A mudança que desejamos começa com a nossa decisão de valorizar o alimento, a natureza e a vida, reconhecendo a importância de cada escolha que fazemos no cotidiano.
*Ana Paula Garcia Fernandes dos Santos é Mestre em Alimentação e Nutrição e professora da Escola Superior de Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
valcsilvaa@gmail.com