À medida que o mundo aumenta em complexidade na economia global, nas políticas monetárias e nos mercados financeiros, torna-se essencial que todas as pessoas desenvolvam as competências e conhecimentos necessários para gerir de forma eficaz e independente os seus recursos económicos. Esse conhecimento é o ponto de partida para alcançar a saúde financeira necessária à construção de um bem-estar que integre todos os aspectos da vida.
Contudo, o que entendemos por saúde financeira? Este conceito refere-se à capacidade de gerir recursos de forma eficiente e sustentável ao longo do tempo. Implica tanto em encontrar o equilíbrio entre despesas e receitas, quanto ter a capacidade de gerir as próprias dívidas e trabalhar para manter um nível estável e adequado de poupança e investimento. Manter uma saúde financeira favorável é essencial para compreender porque é que os contextos de crise não afetam todas as pessoas da mesma forma, mesmo que tenham o mesmo poder de compra: aqueles que têm uma desordem financeira nas suas vidas sofrerão muito mais os efeitos de uma situação econômica instável e ambiente de incertezas.
No Brasil, a educação financeira representa um enorme desafio. A falta de conhecimento e despreparo para lidar com as finanças torna o dinheiro a maior fonte de preocupação de 74% dos brasileiros, segundo pesquisa da fintech Onze. Uma das principais dificuldades apontadas é montar uma reserva financeira. Apenas 17,8% dos entrevistados afirmaram que conseguem cobrir os gastos e poupar algum dinheiro ao fim do mês.
Outro dado que reforça esse cenário é um levantamento feito pelo Banco Central e Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que indica que 70% das pessoas gastam todo ou mais dinheiro do que ganham. Isso significa que 150 milhões de brasileiros não têm controle sobre a própria vida financeira e podem estar a um passo de entrar no vermelho.
Saúde financeira também passa pela questão de gênero. O desconhecimento sobre finanças e salários mais baixos são desafios para as mulheres. De acordo com uma pesquisa da 99Pay, 51% das entrevistadas afirmaram não ter conhecimento sobre como lidar com dinheiro, em comparação com apenas 33% dos homens. Nas classes sociais mais altas, 58% das mulheres relataram não ter educação financeira, em contraste com 18% dos homens que afirmaram não ter esse conhecimento.
Deste modo, a educação financeira significa, no âmbito coletivo, promover o progresso da sociedade como um todo e, no aspecto individual, universalizar o exercício da liberdade de cada pessoa. No entanto, ainda existem vários obstáculos que dificultam o acesso a ferramentas que podem quebrar de uma vez por todas o teto de vidro.
A existência de um dia, uma semana ou um mês dedicado à difusão da cultura financeira é um primeiro passo para promover o progresso da sociedade rumo a uma maior equidade econômica. O próximo passo deve ser a implementação de práticas que contribuam para reduzir a disparidade de gênero que ainda não consegue escapar à esfera econômica. Se usada com sabedoria, a educação financeira pode ser um poderoso equalizador com a capacidade de abrir caminho em direção a uma sociedade mais justa e próspera para todos.
*Sofía Gancedo, graduada em Administração de Empresas pela Universidade de San Andrés, mestre em Economia pela Eseade e cofundadora da Bricksave.
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