O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) autorizou a antecipação do plantio excepcional de soja comercial no Mato Grosso durante o período do vazio sanitário no estado, que acontece entre 15 de junho a 15 de setembro.
O vazio sanitário é definido como o período de 90 dias estipulado pelo governo para cuidar de questões ligadas ao controle de doenças e pragas nas plantações, como explica o consultor do Safra e Mercado, Luiz Fernando Gutierrez.
“Se a gente planta uma safra em cima da outra, sem ter um controle sanitário, a gente pode fazer a chamada “ponte verde” que é a quando se aumenta o número de problemas sanitários, porque não teve esse período sem nada plantado. Cada estado brasileiro tem um período diferente de vazio sanitário. Isso depende naturalmente de questões específicas ligadas à agronomia, mas também ao clima”, explica.
Segundo o Ministério da Agricultura, as datas estipuladas pelo calendário de semeadura e vazio sanitário têm um “nível de flexibilidade para alterações e autorizações excepcionais, desde que os pedidos sejam encaminhados dos Estados para o Mapa com argumentação técnica para que possam ser analisados e posteriormente publicados”.
O MAPA ainda ressaltou que esse “procedimento é feito todos os anos de forma a atender as necessidades regionais, visto as diferenças de produções e climas do Brasil”, e que as decisões para definição do calendário são “feitas com base em informações técnicas, sobre a evolução do controle da ferrugem-asiática ao longo do tempo”, informou em nota.
A permissão para o cultivo antecipado tem dividido opiniões entre os agentes do setor. O Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea) informou que o calendário de plantio de soja no estado vai de 16 de setembro de 2023 a 24 de dezembro de 2023, conforme estabelece a Instrução Normativa nº 001/2023.
Em nota, o instituto ainda acrescentou que “as autorizações de plantio excepcionais para fins comerciais dentro do vazio sanitário nesta safra não possuem previsão legal de autorização pelo Indea” e que somente autoriza o plantio excepcional de soja para fins específicos como “pesquisas de produção e científica, produção e multiplicação de sementes pré-genéticas de variedades de soja devidamente testadas, acompanhamento de avanços de gerações de linhagens de soja, unidades demonstrativas em feiras e eventos agropecuários”, diz a nota.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também manifestou oposição à decisão do Ministério da Agricultura e Pecuária. Em nota enviada ao Brasil 61, a empresa reforçou que “sempre foi contrária à liberação da semeadura tardia da soja e da flexibilização do vazio sanitário para a cultura, em razão do grande risco que a extensão da “ponte verde” (sequência ininterrupta de lavouras a campo) traz para a sustentabilidade da cadeia produtiva dessa leguminosa”.
Conforme a Embrapa informou, o período para a semeadura da soja na maior parte do País é entre outubro e novembro. “Com isso, até março todas as lavouras estariam colhidas. Como o fungo causador da ferrugem-asiática precisa de plantas vivas para sobreviver, a ausência de plantas interrompe o seu ciclo reprodutivo”.
Mercado da Soja
Do ponto de vista do mercado, o consultor do Safra e Mercado, Luiz Fernando Gutierrez explica que o plantio mais cedo pode resultar também em uma colheita prematura.
“Com relação ao mercado de fato, o que pode acontecer é ter um plantio mais cedo naturalmente da soja, uma possível colheita mais cedo e a soja entrar mais cedo no mercado. Então lá no início de janeiro, a gente vai ter mais soja disponível entrando no mercado. Se tudo der certo, se o plantio for rápido, o principal impacto é esse. Isso naturalmente tende a jogar um pouquinho contra preço pela entrada da safra, mas é só uma antecipação, não muda muito a cara do mercado”, afirma.
Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) indicam que o Mato Grosso colheu 45,32 milhões de toneladas de soja na safra 2022/23. Para a safra 23/24 a produção ficou prevista em 43,78 milhões de toneladas, queda de 3,39% ante a safra passada. Segundo o Imea a diminuição da produção é explicada devido à pressão nos preços da soja neste ano em relação a 2022 e os custos de produção.