A tendência do IPCA-15, prévia da inflação oficial do Brasil, é de continuação da desaceleração. A expectativa do mercado é de crescimento de 0,29% na base mensal, contra uma alta de 0,36% em março. Na base anual, a projeção é de um avanço de 3,86% ante alta de 4,14% no mês anterior.
Poderia ser uma grande notícia para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil, mas não é bem assim. A autoridade monetária e os investidores vão avaliar os números da inflação de serviço, que está altamente correlacionada com o nível de atividade econômica e dinâmica do mercado de trabalho.
Embora as projeções de algumas casas de análise também sejam de desaceleração neste subitem, a tendência é de alta, e não faltam variáveis que apontam isso. É constante a reavaliação das projeções de crescimento do PIB deste ano da economia brasileira para cima, o mercado de trabalho continua aquecido com queda na taxa de desemprego e aumento na massa salarial, além dos efeitos dos programas de transferência de renda para a população de baixa renda.
Isso afeta as expectativas dos economistas para a inflação em 2024. De acordo com o último Boletim Focus, divulgado na terça-feira (24) o IPCA deste ano deve fechar a 3,73%, primeira alta na estimativa, enquanto para 2025 a expectativa subiu pela terceira vez consecutiva, para 3,60%. Vale ressaltar que o horizonte da política monetária está no quadro inflacionário de 12 a 18 meses à frente, ou seja, a busca do Copom é para os números que virão somente no ano que vem.
Como o objetivo do mandato de política monetária do Banco Central é colocar a inflação no centro da meta – em 3% para 2024, 2025 e 2026 -, esse é o quadro que pode justificar eventual fim dos cortes da taxa de Selic de meio ponto percentual (p.p) para 0,25 p.p. na reunião de maio ou de junho, com sinalização para a taxa terminal do atual ciclo de flexibilização monetária.
É um cenário que tem como pano de fundo os riscos vindos do exterior com o adiamento do início do corte de juros nos EUA em meio a uma inflação que acelerou neste início do ano e acima do consenso do mercado, o que desvalorizou recentemente o real para acima de R$ 5/dólar e adicionou mais um risco à inflação. Dessa forma, a recalibração da projeção da inflação no Brasil vai auxiliar o Copom a justificar menores cortes e taxa terminal da Selic acima do projetado inicialmente para que o diferencial entre os juros do Brasil e dos EUA não seja, a priori, desfavorável ao real e não contamine as expectativas de inflação no médio prazo.
*Leandro Manzoni é editor-chefe e analista de economia do Investing.com Brasil
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