Sete em cada dez lojistas virtuais brasileiros importam produtos de outros países – mas especialmente da China – a fim de revendê-los no Brasil, segundo um levantamento de 2023, feito pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). E esse percentual deve aumentar, em razão dos preços convidativos dos produtos asiáticos, grande variedade (muitos desses produtos não existem por aqui), bem como importação e logística cada vez mais práticas e descomplicadas.
A presença estrangeira no e-commerce brasileiro não se dá apenas com importações, mas também por meio de investimentos das grandes empresas de e-commerce internacionais. Investimentos que vão desde versões de seus sites em português – aceitando boletos – , até a implantação de grandes centros de distribuição. Afinal, se há tanta importação, estas corporações estrangeiras há muito perceberam o tamanho do mercado brasileiro.
Recentemente, a PagSeguro, empresa de pagamentos pertencentes ao PagBank, divulgou um estudo que revela o Brasil como líderno ranking latino-americano de compras online, movimentando US$ 275 bilhões em 2023, podendo chegar a US$ 435 bilhões em 2026. Números que incentivam os estrangeiros a cada vez mais aportar por aqui.
Os investimentos estrangeiros no comércio eletrônico brasileiro têm sido uma das principais forças impulsionadoras do seu crescimento acelerado. Grandes empresas, principalmente da Ásia e dos Estados Unidos, estão de olho nesse potencial do mercado brasileiro e investindo pesado em suas operações. Esse fluxo de capital estrangeiro não só traz recursos financeiros, mas também conhecimento e tecnologia, impulsionando o avanço do setor, gerando empregos e beneficiando os consumidores.
O resultado é que atualmente cinco dos dez portais de e-commerce mais acessados no Brasil são de empresas internacionais, conforme dados de 2023 de pesquisa da empresa Conversion. Naturalmente, algumas questões surgem quanto a essa significativa presença estrangeira, pois o e-commerce brasileiro possui suas próprias peculiaridades e características singulares. Primeiro ponto: será que essas empresas estão levando em consideração as demandas locais da forma mais correta? Segundo: em que medida a concorrência internacional acaba prejudicando as empresas nacionais de menor porte? Dúvidas legítimas que merecem e devem ser debatidas.
Por um lado, é inegável que os investimentos estrangeiros têm contribuído para a modernização e o desenvolvimento da logística no e-commerce brasileiro. Novas tecnologias têm sido adotadas, resultando em processos mais rápidos e eficientes de entrega, além de maior rastreabilidade das mercadorias. Fora isso, o aumento da concorrência leva as empresas nacionais a se reinventarem e buscarem soluções inovadoras para se manterem competitivas no mercado.
Contudo, é necessário ressaltar a importância de se valorizar também as empresas nacionais e o empreendedorismo local. É fundamental apoiar e fortalecer o desenvolvimento de negócios nacionais no e-commerce, garantindo que eles não sejam ofuscados pelas gigantes internacionais. Incentivos fiscais e políticas públicas adequadas podem ser instrumentos eficazes para equilibrar essa concorrência e assegurar a continuidade e o sucesso das empresas brasileiras.
Os investimentos estrangeiros são uma força importante no crescimento do e-commerce brasileiro. Eles trazem inovação, tecnologia e recursos financeiros para o setor, impulsionando o desenvolvimento e aprimorando a experiência de compra dos consumidores. Mas é essencial que se mantenha um equilíbrio saudável entre as empresas estrangeiras e as nacionais, promovendo ações de apoio ao empreendedorismo local e garantindo a competitividade de nossas lojas.
Assim, o e-commerce brasileiro poderá operar em seu pleno potencial e se consolidar como um dos principais protagonistas do mercado global. E conviver em harmonia com os estrangeiros.
*Luciano Furtado C. Francisco é analista de sistemas, administrador e especialista em plataformas de e-commerce. É professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde é tutor no curso de Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos e no curso de Logística.