O Instituto Artium apresenta Matéria Prima, exposição composta por esculturas da artista porto-riquenha-americana Gisela Colón, cujas obras eco feministas abordam questões ecológicas, cósmicas e universais, a primeira exibição institucional da artista em São Paulo, com abertura marcada para 25 de agosto.
As esculturas orgânicas de estrutura totêmica e ativadas pela luz de Gisela Colón, junto a suas monumentais instalações de arte ambiental, exploram a percepção humana e desafiam os espectadores a vivenciarem transformações no espaço em tempo real. Colón tem um processo artístico que utiliza materiais de alta tecnologia, como acrílicos ópticos e fibra de carbono, bem como material coletado em locais importantes na trajetória de vida da artista. Além disso, Colón é conhecida por ser a pioneira do “minimalismo orgânico”, um estilo que evoca a energia da terra, memórias biológicas ancestrais e conceitos de tempo, gravidade e forças universais da natureza.
Organizada pelo curador independente Simon Watson, a exposição busca provocar um diálogo entre as esculturas orgânicas luminescentes de Colón e a arquitetura histórica neoclássica do Palacete Stahl, sede do Instituto Artium. A exposição começa na parte externa, onde Colón transforma os jardins do instituto através de uma instalação artística composta por três monólitos parabólicos, uma forma escultural poderosa que ela tem integrado em suas intervenções de Land Art ao redor do mundo. Neste oásis com vegetação exuberante, os totens translúcidos surgem do solo como se fossem árvores futuristas, integrando-se de forma harmoniosa à floresta urbana, a flora e a fauna de São Paulo.
Os monólitos de Colón combinam futurismo com artefatos culturais antigos e estruturas primitivas misteriosas. O formato, à primeira vista, remete a formas geométricas aerodinâmicas, semelhantes a projéteis utilizados em situações de vigilância e guerra. Essa referência evoca a história conturbada do colonialismo militarizado no Caribe, bem como as complexas experiências pessoais da artista com a violência armada. No entanto, para Colón, o monólito também ressoa, em sua vertiginosa verticalidade, com os impressionantes picos montanhosos da Floresta Tropical de El Yunque e da Cordilheira Central em Porto Rico, que são uma duradoura fonte de inspiração e matéria-prima para a artista. Através das mãos de Colón, a violência de um projétil se transforma na forma primordial e enigmática da montanha, simbolizando um ato de cura transformador e decolonial. Através do monólito, Colón reconfigura histórias entrelaçadas em uma linguagem universal, transformando formas de violência, deslocamento e morte em símbolos de cura, luz e vida.
Colón utiliza a palavra “plasmático”, referindo-se ao quarto estado da matéria criado sob pressão intensa e superaquecimento, como uma metáfora para descrever a experiência de vida latino-americana. “Assim como o plasma”, diz ela, “nós emergimos de uma opressão profunda, transformando-nos em montanhas que brotam das forças geológicas sob a terra, ou supernovas que explodem no espaço. A superfície mutável e iridescente da escultura encapsula poeticamente a natureza evolutiva de nossa luta colonial, entrelaçando-se em um diálogo sinérgico com as condições culturais, etnográficas e históricas deste importante sítio brasileiro.”
Ao ativar os espaços calcários centenários do Palacete Stahl, as esculturas em formato de cápsula orgânica de Colón evocam um senso de mistério. Elas canalizam as origens do universo, incluindo o big bang e vestígios do início da vida. Além disso, fazem referência a estruturas dentro do corpo humano, como nossas mitocôndrias e DNA. As esculturas em formato de cápsula refletem as investigações de Colón sobre a teoria das cores. Através de uma experiência prismática de luz, sem o uso de tinta, a artista cria o que ela chama de ‘cor estrutural’. Como recipientes de cor estrutural, as esculturas apresentam um espectro de cores fluido quando observadas de diferentes pontos de vista, uma função da refração da luz que se manifesta no mundo natural. Assim, as formas assimétricas e ‘humanizadas’ de Colón incorporam características da vida orgânica, alterando e transformando suas qualidades físicas conforme os fatores ambientais. Isso facilita uma experiência perceptual de cor como luz em tempo real, permitindo aos espectadores imaginarem fenômenos perceptuais ‘impossíveis’, como cores imaginárias.
A artista apresenta, simultaneamente, uma exposição paralela correlacionada intitulada O Quarto Estado de Matéria, na Galeria Raquel Arnaud com curadoria de Marcello Dantas.
SOBRE A ARTISTA
Nascida em 1966, em Vancouver, no Canadá, filha de um pai porto-riquenho que estava em intercâmbio estudantil, Colón foi criada em San Juan, Porto Rico, onde passou seus anos de formação. As experiências de sua juventude explorando a biodiversidade da ilha caribenha e criando arte com sua mãe, que era pintora, plantaram uma semente que cresceu e se transformou em na prática artística de Colón. Ela se formou na Universidad de Puerto Rico – Recinto de Río Piedras (1987) e na Southwestern Law School (1990). Há três décadas, Colón tem se dedicado à sua prática artística.
O trabalho de Colón já foi exibido nos Estados Unidos, Europa, Egito, Oriente Médio e América Latina. Exposições notáveis incluem “The Future is Now” para a Bienal de Land Art da Arábia Saudita, Desert X AlUla (2020), “Forever is Now”, uma exposição nas Pirâmides de Gizé, Patrimônio Mundial da UNESCO de 4.500 anos (2021), “Godheads – Idols in Times of Crises” na Floresta de Oude Warande nos Países Baixos (2022), “One Thousand Galaxies of Light (Starfield)”, uma instalação de luz imersiva no rio Wadi Hanifa, Riade, Arábia Saudita (2022), e “If The Walls Could Talk / Reclaimed Stones: Foundations of Civilization, Past, Present, Future”, na Cidadela de Salah al-Din, Cairo, Egito, um Patrimônio Mundial da UNESCO (2023); e Matéria Prima no Museu Nacional da República em Brasília (2024).
Projetos internacionais futuros da artista incluem a Bienal de Havana, em Cuba (2024), e uma exposição individual no Museu de Arte de Porto Rico (2025). As obras de Gisela Colón também fazem parte de coleções permanentes no Museu de Arte do Condado de Los Angeles, Museu de Arte Wadsworth Atheneum, El Museo del Barrio, Museu de Arte SCAD, Museu Norton de Arte, Museu de Arte Contemporânea de San Diego, Pérez Art Museum Miami, Mint Museum, Museu de Arte de Palm Springs, Instituto de Cultura Puertorriquenha e Museu de Arte de Porto Rico.
SOBRE O CURADOR
Nascido no Canadá e criado entre a Inglaterra e os Estados Unidos, Simon Watson é um curador independente e consultor de arte que divide seu tempo entre Nova York e São Paulo. Veterano na cena cultural desses três continentes, ao longo das últimas quatro décadas, Simon fez a curadoria e organizou mais de 350 exposições de arte para galerias e museus. Sua especialização está em identificar novos artistas com potencial excepcional, muitos dos quais agora são reconhecidos internacionalmente na categoria “blue chip” e representados por algumas das galerias mais prestigiadas do mundo.
A exposição Matéria Prima no Instituto Artium marca a terceira grande mostra do trabalho de Gisela Colón curada por Watson. O primeiro projeto foi na lendária exposição Forever Is Now (2022), que foi realizada nas Pirâmides de Gizé, no Egito, quando Colón criou uma escultura monumental de “sol nascente” posicionada em frente à antiga Esfinge. Mais recentemente, Watson foi cocurador da exposição Matéria Prima, uma retrospectiva do trabalho de Colón, no Museu Nacional da República em Brasília, juntamente com Sara Sailert, diretora do museu.
SOBRE O INSTITUTO ARTIUM DE CULTURA
O Instituto Artium ocupa um palacete centenário na Rua Piauí, no bairro Higienópolis, tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e reconhecido como patrimônio histórico. Construído para ser a residência do primeiro cônsul da Suécia em São Paulo, em 1921, o casarão passou por duas das grandes famílias paulistas de barões do café e foi propriedade do Império do Japão por 67 anos (de 1940 a 2007). A residência foi fechada durante a Segunda Guerra Mundial e, em 1970, como testemunho da história do Brasil de então, o cônsul-geral do Japão foi sequestrado quando chegava ao local.
Degradado desde 1980, o espaço foi assumido pelo Instituto Artium em 2019, passou por um minucioso trabalho de restauro, revitalizando jardins e recuperando elementos ornamentais e decorativos da arquitetura da época de sua construção. A entidade cultural sem fins lucrativos cumpre atualmente um plano de atividades que reúne projetos nas áreas da preservação de patrimônio imaterial, preservação de patrimônio material, artes visuais e artes cênicas.
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ALISSON SCHAFASCHECK
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