A inflação oficial do mês de julho foi de 0,12%, segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado é 0,20 ponto percentual acima da deflação de 0,08% registrada no mês anterior. Em julho de 2022, a variação foi de -0,68%. No acumulado de 2023, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que mede a inflação — registrou alta de 2,99% e, nos últimos 12 meses, de 3,99%.
O especialista em finanças e diretor da Valorum, Marcos Melo, avalia que, apesar da taxa relativamente alta em julho, os números ainda estão dentro do teto de estimativas.
“Essa taxa, apesar de ser acima do que se esperava, dificilmente vai frustrar as expectativas do governo e do mercado de estarmos próximos da meta de inflação; que para este ano de 2023 é de 3,25%. Nós estamos com uma inflação acumulada nos últimos dez meses de forma até relativamente comportada, em torno de 3,5%. E ainda por cima existe uma margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo da inflação.”
O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), André Braz, ressalta o aumento esperado do IPCA nos últimos 12 meses e a tendência de alta até o fim do ano.
“Isso vai acontecer porque no terceiro trimestre do ano passado, entre julho e setembro de 2022, o IPCA registrou quedas muito intensas. Foi aquele período da corrida eleitoral, quando houve cortes de impostos na energia elétrica, na gasolina e também nas telecomunicações, que pesam muito no IPCA. E esse ano, a inflação que a gente espera para julho, agosto e setembro — ainda que seja baixa — não vai ser tão baixa quanto a do ano passado. Então isso vai fazer com que a taxa em 12 meses volte a acelerar.”
Inflação por setores
O grupo Transportes apresentou a maior variação no mês de julho, com alta de 1,5%. Também registraram aumento dos preços os setores de Despesas Pessoais (0,38%); Saúde e cuidados pessoais (0,26%); Educação (0,13%) e Artigos de residência (0,04%). O grupo Comunicação teve variação nula (0%).
Segundo o IBGE, a gasolina foi o produto que mais impactou nos resultados de julho, com alta de 4,79% dos preços. Em junho, o combustível havia registrado queda de 1,14%.
“A boa notícia é que não está espalhado por uma grande quantidade de itens que as pessoas costumam comprar. O principal contribuinte para essa inflação foi o aumento da gasolina de 4,79% e que acaba, de alguma forma, puxando outros indicadores. Então a gente pode esperar que, em dado momento, a taxa de inflação possa retornar àquela tendência que estava nos meses anteriores por causa de uma estabilização do preço da gasolina”, avalia o especialista em finanças Marcos Melo.
O economista André Braz explica que o aumento do preço da gasolina em julho se deu pela retomada integral dos impostos federais.
“Uma parte desses impostos foi recomposta em março deste ano, mas não integralmente. E o valor integral voltou a ser cobrado desse combustível a partir de julho. Então essa inflação de julho seguiu muito influenciada por esse aumento da gasolina dado à retomada integral dos impostos federais PIS e Cofins.”
Ainda segundo André Braz, a estimativa é que a inflação feche o ano em 4,4%, caso não haja nenhum aumento expressivo da gasolina. “E a gente já tem isso no radar porque o preço do barril de petróleo já ultrapassa a casa de US$ 82 o barril e há pouco tempo estava em torno de U2$ 70. Então já tem uma defasagem importante do preço da gasolina no Brasil para o preço internacional. E isso pode fazer com que a Petrobras tenha que rever esse preço nos próximos meses. Isso pode mudar a nossa estimativa de inflação para cima, dado o peso que a gasolina tem no IPCA”.
Setores em queda
Os grupos que seguraram o aumento da taxa de inflação em julho foram os de Habitação e Alimentação e bebidas, que registraram quedas de 1,01% e 0,46% respectivamente. Também foi observada uma redução dos preços no setor de Vestuário (-0,24%).
Segundo o IBGE, a queda no grupo de Habitação se deu pela redução do preço da energia elétrica residencial no período (-3,89%); resultado da incorporação do Bônus de Itaipu.
Newton Marques, economista membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-DF), explica que a queda no preço dos alimentos está relacionada à oferta e demanda da agropecuária.
“Todas as vezes que a agropecuária tem preço alto, os produtores acabam aumentando a produção. E quando a demanda se normaliza com relação à oferta, os preços tendem a cair. A Agropecuária sempre vai ser assim: a gente vai ver preços em alta, preços em baixa. Vai depender dessa sazonalidade, da estação climática e dos preços internacionais.”
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INPC em queda
O levantamento do IBGE também divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que registrou uma queda de 0,09% em julho; bem próxima à do mês anterior (-0,10%). Em julho de 2022, a taxa foi de -0,6%. No acumulado do ano, o INPC registrou alta de 2,59% e, nos últimos 12 meses, de 3,53%.
Enquanto o IPCA abrange as famílias com renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos, o INPC engloba as que possuem rendimentos entre 1 a 5 salários mínimos. O economista da FGV André Braz explica por que o INPC teve queda, frente ao aumento do IPCA.
“A diferença do INPC para o IPCA está no peso. O INPC é para famílias com renda entre um e cinco salários mínimos mensais. Então a gasolina, por exemplo, tem um peso menor no custo de vida de famílias com menor renda, porque quanto menor a renda, menor a probabilidade de você ter carro, menor a probabilidade de você gastar com gasolina. Outro fator é que quanto menos se ganha também, mais se compromete da renda com alimentos e os alimentos caíram de preço. Então essa queda na alimentação favorece mais o INPC do que o IPCA.”
Segundo o IBGE, o próximo resultado do IPCA será divulgado em 12 de setembro.