Não é nenhum segredo que a atividade física é importante para a saúde de qualquer pessoa. Quando falamos de quem possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA), então, os exercícios possuem um papel ainda mais central para garantir a qualidade de vida 一 independentemente da idade.
Como os autistas costumam ter maiores dificuldades no que diz respeito às habilidades motoras, força e resistência musculares, condicionamento físico e habilidades sociais, se exercitar é uma maneira de aprimorar a pessoa nestes quesitos. Isso se traduz, também, em melhorias na comunicação e socialização.
Quais os principais benefícios da atividade física para autistas?
Praticar esportes e outras atividades físicas é imprescindível para o desenvolvimento da pessoa, sobretudo durante a infância. “Quanto mais a criança se beneficia da prática de atividade e exercício físico, mais existe a melhora na qualidade de sono, e consequentemente também melhora na qualidade de vida da família”, explica Daniel Carmo, professor de educação física especialista em treinos adaptados para autistas, ressaltando a importância da boa regulação para melhorar a qualidade de vida também das pessoas próximas.
Segundo ele, os benefícios dos exercícios regulares se aplicam a qualquer faixa etária. Entre os principais resultados estão o aprimoramento da percepção do entorno e a melhora da noção entre espaço, tempo e ambiente.
Além disso, os exercícios ajudam a melhorar a postura corporal e dar maior independência à pessoa pertencente ao espectro autista, enquanto pode ajudar na redução de estereotipias e movimentos repetitivos.
“Percebi que as atividades físicas me ajudaram a superar algumas crises, além de ter maior disposição para sair de casa e fazer outras atividades”, conta o profissional de Business Analytics Thales Farias, 34, que adicionou a musculação e corridas ao cotidiano.
Quem endossa a lista de benefícios é a especialista em Governança de TI Gisele Shinozaki Kauer, 27. “Como autista adulta eu sinto que a ansiedade está muito presente no nosso cotidiano. Temos uma necessidade de se movimentar, gastar um pouco de energia que temos acumulada”, explica.
Aliada com acompanhamento de profissionais de saúde mental, a atividade física ajuda na geração de serotonina e dopamina 一 dois neurotransmissores importantes para a regulação do sono, humor, prazer, motivação e percepção.
Quais as atividades físicas mais indicadas para autistas?
Carmo conta que não dá para escolher um esporte mais apropriado do que outros para pessoas do espectro autista. “Exercício físico é uma atividade planejada e com objetivos distintos, então cada pessoa tem um objetivo diferente”, explica, ressaltando a importância de entender os interesses da pessoa e seu repertório físico.
Por isso, o ideal é experimentar atividades que se adaptam aos gostos e necessidades do atleta autista. Seja caminhar na esteira elétrica, musculação, natação e até equoterapia, a modalidade de preferência da pessoa pode ser usada para atingir seus objetivos 一 e, é claro, com acompanhamento profissional.
Segundo Kauer, o ideal é explicar não só os objetivos para o personal trainer e outros profissionais do estabelecimento, como também as questões inerentes ao TEA. “É importante que as pessoas no entorno saibam das suas necessidades para oferecerem o suporte que você precisa”, conta.
Para ela, uma das principais maneiras de se adaptar à rotina de exercícios é levar suas acomodações à academia 一 sejam eles fones abafadores de ruídos e até dispositivos móveis. “Isso ajuda a tornar o ambiente mais agradável e incentivar a manter a rotina de exercícios”, ressalta.
Por que há uma alta nos diagnósticos de autismo?
Talvez você já tenha visto alguém questionar o motivo de tantas pessoas estarem sendo diagnosticadas com TEA, sobretudo de maneira tardia. Nos Estados Unidos, 1 de cada 36 crianças de 8 anos são diagnosticadas como parte do espectro, contra 1 de cada 15 em 2000 一 é o que dizem dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Na década de 1960, este número era de 1 em cada 2,5 mil.
Segundo Paulo Mattos, médico psiquiatra do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), há um consenso de que a comunidade científica ter maior conhecimento sobre o autismo é o responsável pelo aumento dos diagnósticos.
“No autismo, passamos a identificar melhor os casos mais leves, com menor nível de suporte. Porém é preciso deixar muito claro e reafirmar que não há qualquer relação do aumento do transtorno com o uso de vacinas. Isso foi sugerido em um estudo fraudulento e está comprovado que não há relação”, explica em entrevista ao Globo.
Já Erasmo Casella, neurologista da infância e adolescência no Hospital Albert Einstein, pondera que as crianças do espectro costumam ser diferentes entre si 一 com algumas tendo atraso de fala e outras não, por exemplo. Além disso, o assunto não era debatido nas instituições de ensino como é hoje.
“Veja, me formei em medicina em 1981 e fiz o doutorado em 1994 e não falávamos sobre isso nas aulas. Hoje, o autismo começou a ter muito destaque em congressos, até porque estamos sempre aprendendo sobre o tema”, explica.
Segundo ele, é comum que uma pessoa nascida em 2000 e até antes ainda não tenha sido diagnosticada. “O seu médico poderia ser ótimo, mas certamente não sabia que existia o autismo para atender corretamente o paciente”, detalha.
Por isso, o ideal é ler sobre o TEA e seus traços e procurar profissionais especializados. Para isso, é necessário contar com uma equipe multidisciplinar com psicólogo, psiquiatra e neuropsicólogo.