Todo aluno que se forma no ensino médio profissionalizante, ao final do curso, recebe dois diplomas: o do curso técnico e do ensino médio regular. Uma mudança de 2017 que transformou esse tipo de educação, fazendo com que ela se tornasse mais conectada às necessidades do mercado de trabalho e às demandas do cenário econômico nacional.
Apesar da mudança, o Brasil tem baixos índices de alunos matriculados nesse tipo de ensino, apenas 10%. Os números são ainda menores quando olhamos para a taxa de conclusão: já que apenas 40% dos matriculados terminam o ensino técnico — segundo pesquisa feita pelo Insper.
O assessor de políticas institucionais e parlamentares do Instituto Federal de Brasília, Adilson de Araújo, explica que essa realidade ainda é resultado do nosso passado.
“Isso tem uma relação direta até com a própria formação social do povo brasileiro, a nossa herança escravocrata desvalorizou o trabalho manual e isso ainda tem um peso muito forte. O trabalho abstrato, o trabalho intelectual é que passou a ser valorizado e tudo que se refere ao mundo operacional passou a ser visto como algo secundário.”
Uma mudança no cenário
Apesar dos números ainda considerados baixos, o assessor do IFB diz que o cenário está mudando. Segundo Adilson de Araújo, há alguns anos a taxa de jovens na educação profissional era de 8%, hoje estamos em torno de 10%.
“O surgimento dos institutos federais nos últimos 15 anos acabaram por minimizar o histórico de preconceito, até pela qualidade dos cursos técnicos oferecidos nos institutos federais, muitos jovens têm procurado.”
A pesquisa do Insper mostra que para cada R$ 1 investido na educação profissional de nível médio, o estudante de ensino técnico obtém retorno superior a R$ 3 na própria remuneração. Mas o professor Adilson de Araujo opina que é mais que isso.
“Sem dúvida, o investimento em educação profissional gera possibilidade de desenvolvimento do setor produtivo, desde seja uma formação séria, competente, com condições adequadas, com insumo e com bons professores. Isso a pesquisa tem indicado que a probabilidade desses jovens se inserirem no mercado de trabalho é muito maior.”
Ensino técnico: jovens qualificados recebem 32% a mais
O exemplo de quem já esteve do outro lado
O senador Paulo Paim (PT-RS) estudou no Senai e conta que deixou de vender flores e frutas para se tornar um técnico, mudança que teve grande impacto na vida dele.
“O ensino técnico profissionalizante não apenas eleva a qualidade de vida, mas também impulsiona novos conhecimentos, inovação, tecnologia, pesquisa, capacitação, enfim, forma profissionais. No entanto, o Brasil precisa investir mais nesse setor, apenas 10% dos nossos alunos cursam ensino técnico”. Segundo o parlamentar, “em outros países europeus, as taxas de alunos matriculados em ensino técnico são muito maiores. Na Alemanha chega a 49% e na Finlândia, 68%”.
Para aumentar esses índices no Brasil, o senador apresentou o PL 126/2020 que propõe a criação do Fundo de Desenvolvimento no Ensino Profissional, o Fundep. O projeto aguarda votação na Comissão de Educação do Senado. “O Brasil merece o melhor e o ensino técnico é parte fundamental deste caminho”, finaliza.
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Um a cada dez jovens cursa ensino técnico no Brasil; número abaixo da média dos países da OCDE