A fase de prévias das eleições americanas vai até o meio do ano, mas tudo indica que Joe Biden e Donald Trump repetirão a disputa de 2020 para ver quem será o novo presidente dos EUA. E apesar de haver inúmeros temas que distinguem os dois candidatos, um deles tem se destacado: suas propostas imigratórias.
Uma pesquisa do instituto Gallup, divulgada em fevereiro, mostra que a imigração é o principal motivo para a baixa popularidade do presidente Biden, sendo citada por 19% entre os que o desaprovam. A economia (9%) e a inflação (5%) aparecem em seguida.
O motivo é simples: desde que Biden assumiu o governo e, com o fim das restrições impostas pela pandemia, um número recorde de imigrantes tem tentado atravessar a fronteira dos EUA ilegalmente. Apenas em 2023, foram registrados mais três milhões de flagrantes pelas autoridades fronteiriças, segundo o Departamento de Segurança Interna. Com isso, a oposição e parte do eleitoral acusam o Partido Democrata, de Biden, de ser leniente com a imigração ilegal.
Apesar disso, segundo o Instituto Cato, 91% dos americanos querem mais imigrantes nos EUA, sendo 68% em menor nível e 23% em maior quantidade. Para o brasileiro Rodrigo Costa, CEO do Viva América, empresa de serviços imigratórios, as eleições deste ano são a maior oportunidade que os EUA terão, em décadas, para reformar o sistema imigratório do país.
“A última atualização significativa nas políticas americanas de imigração foi no começo da década de 1990, que trouxe a criação de novos vistos e mecanismos. Nestes 30 anos de lá para cá, porém, o cenário mudou drasticamente, em especial em razão das novas tecnologias e encurtamento das distâncias”, explica.
Na avaliação do especialista, independentemente de quem vença a disputa presidencial, seja Trump ou Biden, é a composição do Congresso que determinará que tipos de legislações poderão ser aprovadas. “Um parlamento de maioria democrata certamente vai ser propício a medidas como a criação de vistos, o aumento na quantidade anual de green cards disponíveis a estrangeiros e facilitação do processo de asilo. Por outro lado, no caso de um Congresso controlado pelos republicanos, podem ser aprovadas medidas de redução na burocracia imigratória, ampliação dos poderes dos agentes de fronteira e maior dificuldade para concessão de asilo.”
Como chefe da Casa Branca, o presidente dos EUA tem o poder limitado para interferir em como os benefícios migratórios são concedidos e, mesmo assim, muitas das medidas que o Executivo pode implementar ainda dependem de autorização orçamentária vinda do Congresso.
No final de 2023, o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS, na sigla em inglês) tinha 4,3 milhões de petições pendentes, aguardando decisão de um oficial. É o maior acúmulo de pedidos imigratórios da história. “O USCIS ampliou o agendamento online, implementou novas tecnologias, atualizou seus manuais internos, contratou mais funcionários e aumentou os valores das taxas para dar conta da nova demanda, mas mesmo assim são medidas insuficientes para o tamanho do desafio que os EUA enfrentam”, explica Costa.
Impacto para os brasileiros
Nos últimos cinco anos, o fluxo imigratório de brasileiros para os EUA tem batido sucessivos recordes. Em 2022, último ano em que há dados disponíveis, mais de 23,5 mil green cards foram emitidos para nacionais do Brasil, maior quantidade da história. No mesmo ano, 12 mil brasileiros que já moravam nos EUA obtiveram a cidadania americana, também um recorde.
Para o CEO do Viva América, uma eventual vitória de Biden favorecerá a intensificação desse movimento. “Contudo, caso Trump seja eleito presidente, é possível que haja algum impacto negativo na quantidade de brasileiros que vão para os EUA, já que ele tem adotado uma retórica mais restricionista, inclusive prometendo realizar a maior deportação da história. Querendo ou não, é algo que afasta os estrangeiros e causa certa insegurança jurídica”, explica Costa.