O AVC isquêmico — mais conhecido como derrame — passou a fazer parte da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do Sistema Único de Saúde (SUS). Doze hospitais já estão habilitados para fazer a trombectomia mecânica (TM) — tratamento que promete melhorar a qualidade de vida dos pacientes —, segundo o Ministério da Saúde.
Conforme a Sociedade Brasileira de AVC, com dados do Portal da Transparência do Centro de Registro Civil (CRC) do Brasil, a doença já matou mais de 98 mil brasileiros, de janeiro a novembro deste ano.
O neurocirurgião pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e Sociedade Brasileira de Neurorradiologia Diagnóstica e Terapêutica, especializado em Neurocirurgia Endovascular e Neurorradiologia Intervencionista, Victor Hugo Espíndola, diz que o AVC isquêmico acontece quando existe a obstrução de uma artéria no cérebro.
“Aquela região do cérebro que receberia o sangue daquela artéria não vai mais receber. Então, aquele tecido cerebral vai sofrer um processo degenerativo que a gente chama de isquemia cerebral. Esse AVC esquêmico”, explica.
A trombectomia mecânica entra no tratamento como um procedimento para retirar o coágulo ou algum material que esteja obstruindo o fluxo sanguíneo arterial cerebral, através de uma intervenção cirúrgica feita com cateteres. Conforme o especialista, a realização da cirurgia é recomendada para casos mais graves da doença.
“A gente entra na artéria e através desse cateter a gente desobstrui essa artéria, seja usando um estente ou aspirando esse coágulo com catéteres específicos. Se esse tratamento for instituído rapidamente de um modo adequado, muitos pacientes conseguem reverter completamente os sintomas ou ficarem com sequelas mínimas”, ressalta.
Atenção aos sintomas
Um estudo publicado recentemente pela revista científica Lancet Neurology alerta que, até 2050, o AVC pode causar quase 10 milhões de mortes por ano. Preocupado com os números alarmantes, o neurologista Marco Aurélio Fraga Borges, do Instituto de Neurologia de Goiânia, lembra que o AVC pode causar qualquer tipo de déficit neurológico súbito.
”Podem ocorrer perda visual, uma paralisia de um lado do corpo, limitação para andar, limitação para se comunicar, seja para entender o que está sendo falado ou até mesmo falar, se comunicar”, reforça.
O neurocirurgião Victor Hug, concorda e ainda acrescenta: “O que o AVC isquêmico pode causar, quais são as sequelas e os sintomas, vai depender muito da região do cérebro que for afetada. O nosso cérebro é topografado, então a gente tem a área da fala, área motora do braço direito, área motora do braço esquerdo, área da memória, tudo. Então dependendo da região que for afetada, vão aparecer os sintomas que o paciente vai ter”, detalha.
Como evitar
Na opinião do neurocirurgião Victor, o AVC pode ser evitado se as pessoas ficarem atentas aos sinais. Ele ressalta que a doença tem tratamento, mas está intimamente relacionada ao tempo. “Se o paciente chegar fora da janela terapêutica, por exemplo, a gente não vai ter muito o que fazer por esse paciente”.
Ele ainda lembra que a trombólica venosa — medicação feita na veia — ela tem um tempo curto para ser administrada. “Ela pode ser feita em até 4 horas e meia, e a trombectomia mecânica, pode ser feita em até 24 horas, mas o ideal é que ela seja feita em até 6 horas ou menos. Quanto mais rápido for feito, melhor vai ser para o paciente”, orienta.
O neurologista, Marco Aurélio Fraga Borges, do Instituto de Neurologia de Goiânia, também reforça que, além dos cuidados com fatores de risco como hipertensão arterial, sedentarismo, tabagismo, dieta inadequada, gordura abdominal, diabetes, problemas de colesterol, é importante perceber alguns sinais. “O reconhecimento da doença se passa por três sinais muito simples, que é o sorriso torto, o desvio da rima labial para o lado, a boca torta. O segundo mais comum é o braço fraco, dificuldade para movimentar o braço de um lado do corpo. E o terceiro é dificuldade para falar. Qualquer desses três sintomas tem que procurar o hospital o mais rápido possível”, alerta.
O Ministério da Saúde informa que os gestores estaduais, municipais e distritais do SUS já podem solicitar a habilitação de novos hospitais para a realização do procedimento. Basta comprovar a habilitação como unidade de assistência de alta complexidade em Neurologia e Neurocirugia, como centro de atendimento de urgência tipo III aos pacientes com AVC, entre outros critérios estabelecidos na portaria. A concessão ocorre após análise e aprovação dos pedidos pela pasta.
Aproximadamente R$ 74 milhões serão disponibilizados por ano do Bloco de Manutenção das Ações e Serviços Públicos de Saúde – Grupo de Atenção Especializada – para o tratamento. O Fundo Nacional de Saúde (FNS) adotará as medidas necessárias para a transferência dos valores mensais, de acordo com a apuração da produção de serviços registrada na base de dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS).