Ainda que enfrentem desafios significativos em termos de representação e inclusão, a literatura é um pilar em que a população trans e travesti têm avançado, em decorrência da onda crescente de reconhecimento em relação à importância de apresentar vozes diversas nas obras. Segundo levantamento realizado por Amara Moira, Coordenadora de Exposições e Programação Cultural do Museu da Diversidade Sexual, há um aumento considerável de publicações nos últimos anos. “Entre 1970 e 2021, temos cerca de 100 obras lançadas, desde crônicas, poesia, textos acadêmicos, etc. Mais de 60 dessas obras foram lançadas apenas entre 2017 e 2021, logo, é possível observar um avanço relevante para o meio”, explica Amara.
No Brasil, artistas trans foram publicados por grandes editoras nos últimos anos. Como exemplo, é possível citar ‘Eu travesti’ [2019], da Luísa Marilac, publicado pela Record, ‘A construção de mim mesma’ [2021], de Letícia Lanz, publicado pela Objetiva, e “Neca” [2021], de Amara Moira, que será publicado pela Companhia das Letras. Além disso, obras brasileiras estão sendo traduzidas no exterior. É o exemplo de Anderson Herzer que teve seu livro traduzido para o alemão e o italiano no final do século XX e ‘E se eu fosse puta’ de Amara Moira que saiu na Argentina, Colômbia e, no segundo semestre, sairá em inglês pela Feminist Press.
“Apesar de todo o movimento que estamos observando, é importante reconhecer que há um longo caminho a ser percorrido quando se fala em igualdade de oportunidades. Iniciativas que promovem o incentivo e a inclusão são fundamentais para alavancar novos autores e autoras que precisam ser reconhecidos por suas obras”, explica a especialista.
Por saber a importância deste trabalho para a população trans e travesti, O Museu da Diversidade Sexual, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas de São Paulo, criou o projeto “Clube do Livro” que durante todo o primeiro semestre de 2024 abordará o tema “Autobiografias Trans”. A iniciativa, que acontece de forma online, tem o objetivo de disseminar obras autobiográficas de pessoas trans e travestis, e fomentar o interesse pela literatura. Com início em março fevereiro deste ano, o clube já promoveu dois encontros sendo o primeiro para debater a obra “A Queda para o Alto” (1982), de Anderson Herzer, e o segundo que abordou “A Princesa: depoimentos de um travesti brasileiro a um líder das Brigadas Vermelhas”, (1995), de Fernanda Farias de Albuquerque e Maurizio Jannelli. O próximo encontro acontecerá no dia 29 de abril, às 19h, e discutirá a obra “Liberdade ainda que profana” de Ruddy Pinho (1998). As inscrições podem ser feitas no site do MDS.
Além da iniciativa, o Museu da Diversidade Sexual também possui um Núcleo de Educação para a Diversidade e um Centro de Empreendedorismo e Formações, frente educativa voltada para a capacitação profissional da comunidade LGBTQIAPN+ e para o público geral interessado em pautas da comunidade.
Sobre o Museu da Diversidade Sexual
O Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, equipamento da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, é uma instituição destinada à memória, arte, cultura, acolhimento, valorização da vida, agenciamento e desenvolvimento de pesquisas envolvendo a comunidade LGBTQIAPN+ – contemplando a diversidade de siglas que constroem hoje o MDS – e seu reconhecimento pela sociedade brasileira. Trata-se de um museu que nasce e vive a partir do diálogo com movimentos sociais LGBTQIAPN+, se propõe a discutir a diversidade sexual e de gênero e tem, em sua trajetória, a luta pela dignidade humana e promoção por direitos, atuando como um aparelho cultural para fins de transformação social.