Enquanto o mundo ainda se prepare para mais uma Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climática, a COP28 — que acontece a partir do próximo dia 30 em Dubai — , o Brasil já sabe seu papel no encontro. De acordo com o negociador-chefe e secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, embaixador André Corrêa do Lago, o país busca cumprir o que já fora proposto em acordos como o de Paris e o Protocolo de Kyoto — e ajudar a reduzir o aquecimento global.
“O Brasil quer que o acordo de Paris dê certo. E o Brasil também quer que seja levado em consideração o último relatório do IPCC que mostra que não podemos passar de 1,5°C. Então o Brasil chegará a COP como um buscador de soluções para que o mundo consiga evitar que o aumento da temperatura seja 1,5ºC.”
Outro desafio do país no encontro é aumentar a confiança entre dois grupos de países — os desenvolvidos e os em desenvolvimento — o que, segundo o negociador, acaba atrasando os avanços e dificultando os resultados.
“Essa falta de confiança tem diminuído significativamente a velocidade dos avanços nas decisões da convenção e do Acordo de Paris e, portanto, gera no mundo, uma certa frustração por que as pessoas gostariam de ver uma aceleração maior nas decisões. O Brasil vai atuar muito nisso, ou seja, assegurar que se consigam resultados e que se diminua a divisão do mundo entre essas duas categorias.”
Países ricos ainda não cumprem o que prometeram
Apesar da pauta principal da COP28 ser sobre as mudanças climáticas, questões econômicas também devem ser debatidas no encontro. Entre elas, a falta de compromisso dos países ricos com os em desenvolvimento, já que em 2009 os países desenvolvidos prometeram US$ 100 bilhões até 2020 para ajudar na transição para uma economia de baixo carbono. Como os recursos não foram liberados a tempo, o prazo foi estendido até 2025.
“Os países desenvolvidos estão emitindo gases desde o final do século XVIII, sobretudo no século XIX, e a maioria dos países em desenvolvimento passou a emitir depois da Segunda Guerra Mundial. Desde então, aumentamos a nossa população em quatro vezes e meia. A Bélgica aumentou sua população em 10% no mesmo período. É preciso levar em conta que há uma diferença gigantesca no déficit de infraestrutura e de habitação que deve ser equacionado às populações”, comenta o negociador.
Segundo André Corrêa do Lago, “o Brasil vai chegar na COP28 decidido a usar da melhor maneira possível sua tradição de encontrar equilíbrio entre as posições dos países em desenvolvimento e países desenvolvidos que são muito divididos nas COP”.
Regulamentação do mercado de carbono
Um dos pontos da estratégia de descarbonização da indústria inclui a regulamentação do mercado de carbono. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende a pauta e levará o documento Visão da Indústria, apresentado em outubro, para discussão na COP28. A CNI também reforça o que foi dito pelo embaixador André Corrêa do Lago sobre a importância do financiamento climático por parte dos países ricos.
O gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, ressalta que o financiamento vem sendo tratado de forma efetiva em várias versões da COP, especialmente em relação a como os países desenvolvidos vão financiar uma transição de baixo carbono para os que estão em desenvolvimento. “É importante que o governo brasileiro acompanhe de forma a considerar também as necessidades e especificidades do nosso país”, destaca.