O Banco Central (BC) informou nessa segunda-feira (6) que o Brasil reduziu o déficit em 79,71% no balanço de pagamentos que representam as transações comerciais, financeiras e de serviços com outros países. As contas externas atingiram saldo negativo de US$1,4 bilhão em setembro deste ano. No mesmo período do ano passado, era de US$ 6,9 bilhões. Economistas e especialistas ouvidos pelo Brasil 61 avaliam o cenário de forma otimista, com a expectativa de que o crescimento continue.
César Bergo, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, afirma que a tendência é que os números externos sigam melhorando, sobretudo em razão dos superávits comerciais que vêm sendo obtidos pela balança.
“O cenário econômico para os próximos meses é positivo. Nós estamos vendo a franca recuperação da balança comercial, a queda do déficit na balança de pagamento, e a balança de serviço apresenta um decréscimo. Somando tudo isso, mostra-se um ponto positivo para o fechamento das contas externas até o final do ano. A balança comercial continua superando os recordes anteriores, há toda uma questão envolvendo investimentos externos que vêm crescendo”, diz Bergo. “Isso dá uma tranquilidade para o Brasil passar por esse momento de tensão internacional”.
A balança comercial de bens apresentou um superávit de US$ 7,2 bilhões, em contraste com o saldo positivo de US$ 2,1 bilhões registrado em setembro de 2022. As exportações de bens chegaram a US$ 28,7 bilhões, queda de 5,2% em comparação com o ano anterior. As importações de bens encolheram 23,8% na mesma base de comparação, e totalizaram US$ 21,5 bilhões.
Rosa Gonçalves, CEO e fundadora da Idea Soluções Financeiras e agente de crédito internacional, reconhece a melhoria nas contas externas, ao mesmo tempo em que pontua outros desafios para a economia brasileira.
“Os estados que mais se destacam são aqueles que possuem a economia diversificada e comércio internacional mais presente como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; e é possível observar uma melhora nas contas externas que no Brasil em setembro com saldo negativo menor em comparação ao mesmo período do ano do ano anterior. No entanto, não podemos acreditar que tudo foi resolvido. O Fundo Monetário Internacional, por exemplo, projetou que a dívida pública bruta no Brasil chegará a 96% do PIB até 2028”, diz.
Crescimento do PIB
Pedro Ivo Camacho, professor adjunto da Federal Fluminense no Departamento de Ciências Atuariais e Finanças, detalha que o resultado foi impulsionado pelo setor do agronegócio. As regiões do Centro-Oeste, Sul e Sudeste são as mais favorecidas por esse fenômeno, diz Camacho. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro deverá crescer até 2,5% em 2023 em comparação ao ano anterior.
“O déficit nas contas externas do Brasil é algo conjuntural e de médio e longo prazo desde 2009/2010. Apresentamos um problema crônico nas nossas exportações líquidas, o que atrapalha muito a nossa capacidade de atrair divisas estrangeiras”, completa Camacho. “A princípio, o ano começou com alento. Principalmente a partir de abril, quando nós estancamos a relação de decrescimento das nossas exportações líquidas e passamos a fazer um movimento de alta que deve compensar parte desse saldo negativo”, afirma.
“Nesse sentido, é possível que o Brasil em 2024 tenha uma melhora nesse quadro. Mas o que estamos discutindo hoje é um fenômeno de médio e longo prazo que a economia brasileira passa e que atrapalha muito as nossas oportunidades de crescimento”, enfatiza Camacho.