Na corrida pelo lítio, que envolve mineradoras, indústrias automotivas e fundos de investimento em torno da disseminação dos veículos elétricos (EV, em inglês), uma empresa, ao melhor estilo mineiro, vem colhendo resultados silenciosamente no Vale do Lítio.
Fundada em 1985, a CBL iniciou sua operação em 1991 atendendo as indústrias de medicamentos, vidros e cerâmicas, mas, principalmente, a indústria automotiva – o mineral é utilizado na fabricação de graxas. Nos últimos quatro anos, contudo, a demanda do setor de automóveis multiplicou-se e mudou radicalmente – hoje, dois terços de sua produção anual de 1,5 mil toneladas equivalente de carbonato de lítio (LCE, em inglês) tem como destino a fabricação de baterias. A empresa também produz 42 mil t/ ano de concentrado de espodumênio com 5.5% de Li2O.
O número é pequeno se comparado à necessidade mundial de cerca de 800 mil toneladas de LCE neste ano e que deve chegar a 2 milhões de toneladas em 2030. Mesmo assim, a CBL colheu os frutos do pioneirismo: o boom do lítio fez seu lucro líquido crescer mais de 11 vezes entre 2020 e 2022, de R$ 30,7 milhões para R$ 357,9 milhões. O faturamento cresceu cinco vezes, de R$ 120,5 milhões em 2020 para R$ 668,1 milhões no ano passado.
A CBL é uma empresa 100% nacional, pioneira na lavra subterrânea de pegmatito litinífero e no beneficiamento de espodumênio, minério do qual é retirado o lítio. De capital fechado e com dois sócios, os empresários Salustiano Costa Silva e Aguinaldo Pires Couto, a companhia também tem a vantagem de atuar em duas das cinco principais etapas da transformação do lítio até a bateria de carros elétricos.
A empresa opera a mina subterrânea Cachoeira, localizada em Araçuaí (MG), onde lavra o pegmatito litinífero que dá origem ao concentrado de espodumênio, utilizado para produção de compostos de lítio. A extração do minério, que contém o Espodumênio é feita através do método sublevel stopping, incluindo operações com uso de pás carregadeiras comandadas por controle remoto, perfuratrizes Jumbo, software de sequenciamento de lavra e estudos e acompanhamento geomecânico das aberturas geradas durante a lavra. Atualmente, as galerias da Mina da Cachoeira atingem até 180m de profundidade e até 5km de extensão. As reservas na mina somam 4 milhões t. A produção dos compostos de lítio se inicia com o processo de rota ácida com tecnologia adaptada pela CBL.
Além de minerar o espodumênio, um mineral com concentrado de lítio, a empresa consegue beneficiar parte da matéria-prima em carbonato e hidróxido de lítio, dois dos componentes das baterias. Outras empresas que atuam no país, como a AMG e a Sigma Lithium, só atuam na oferta do espodumênio. Todas elas ocupam a mesma região, no Vale do Jequitinhonha.
Desde 2019, a CBL exporta espodumênio, carbonato e hidróxido de lítio para países como China e Alemanha, que seguem as outras etapas de manufatura. Para aproveitar o momento positivo, a companhia está investindo para duplicar tanto sua capacidade de mineração quanto de beneficiamento até 2030. O prazo não é trivial, explica Alvarenga. A partir da próxima década, o mercado pujante para o lítio tende a desacelerar, quando a oferta alcançar a demanda.
Nesse cenário, a “corrida do lítio” se assemelharia mais a um “sprint”, segundo Alvarenga. E, para o executivo, a empresa tem sido beneficiada, justamente, por já estar no mercado. “O desafio para quem deseja entrar em um projeto ‘greenfield’ [do zero] em mineração no Brasil é que vai levar de seis a oito anos até obter todas as autorizações necessárias – e não é muito diferente disso fora do país”, reforça o executivo. Isso porque, ao atuar na mineração, passando pelo beneficiamento químico até a manufatura das baterias, há uma exigência de know-how e investimentos que podem não entregar o retorno esperado no tempo necessário até o pico da demanda, previsto para acontecer em 2030.
Com informações do Infomoney