A inveja, um sentimento complexo e difuso, permeia as relações humanas há séculos, deixando sua marca em inúmeras interações sociais, seja como vítima ou como perpetrador. Um aspecto particularmente interessante desse fenômeno é a tendência das pessoas em agir com discrição em relação aos seus sonhos e projetos quando confrontadas com a possibilidade de inveja alheia. A psicóloga e terapeuta Solange Gomes, com mais de 25 anos de experiência, explica as formas e níveis de inveja.
A inveja pode ser categorizada em três níveis ou formas: duas delas têm a potência de serem úteis para o autoconhecimento e o autodesenvolvimento sem prejuízo de ninguém, enquanto a terceira é verdadeiramente destrutiva. Destrói o invejoso e põe em risco quem o cerca. É importante aprendermos a manejar a inveja, visto que é um sentimento universal.
No primeiro caso, nos deparamos com algo que achamos interessante, invejável, admirável. Por exemplo, a força e a disciplina de um atleta olímpico ou a facilidade do vizinho em aprender idiomas. Ao reconhecer que algo é admirável ou invejável sem se diminuir e sem competição, desenvolve-se a capacidade de resposta emocional que envolve respeito e apreciação. Esta capacidade promove conexões sociais positivas, com efeitos benéficos para o bem-estar emocional. Ao reconhecer e valorizar as qualidades positivas ao nosso redor, nos sentimos mais leves e confortáveis no mundo.
No segundo caso, reconhecemos algo que nos falta e a sua falta dói, assumimos a importância deste algo, localizamos uma ferida narcísica e nos motivamos a preencher a lacuna com princípio de realidade. Seja um corpo mais bonito, mais cultura, mais dinheiro ou mais amigos, entende-se que é necessário esforço e disposição para pagar esse preço. Estamos falando de baixa autoestima e insegurança que podem ser melhoradas.
Por fim, há o terceiro tipo de inveja, o mais destrutivo. Nesse caso, não se deseja ter o que o outro tem, mas sim que o outro perca o que possui. O desejo que o outro sofra e seja humilhado ou perca o que conquistou é exacerbado.
Segundo a psicóloga e terapeuta Solange Gomes, não é apenas uma questão de desejar algo para si mesmo, mas sim de desejar o mal alheio. “Não quero seu carro, quero que o motor estrague; não quero seu vestido, quero que você tropece na barra dele e caia”. Essa inveja, se não controlada, pode ser fatal para o invejoso, pois mexe com a química cerebral, fazendo-se ver defeitos em tudo e em todos, e até mesmo distorcendo elogios em críticas.
A inveja nos atinge quando comparamos nossas vidas às dos outros e sentimos que estamos aquém em algum aspecto. Isso pode ser desencadeado por uma variedade de fatores, como inseguranças pessoais, e até mesmo a influência das redes sociais, especialmente em um mundo cada vez mais conectado.
O antídoto para essa inveja destrutiva é cultivar a empatia e a compaixão, aprendendo a se alegrar com as conquistas alheias e a entender que a felicidade do outro não diminui a nossa própria felicidade. O detentor deste tipo de inveja costuma desenvolver depressão devido à oscilação da ocitocina, o hormônio do apego do afeto, e é uma depressão que não responde à medicação. Costuma desenvolver também transtornos relacionados ao cortisol e doenças autoimunes.
No entanto, é crucial lembrar que cada pessoa é única e possui suas próprias conquistas e desafios. Não é fácil o autocontrole da inveja, mas certamente vale a pena o esforço. Saber lidar com ela é uma decisão funcional que vai fazer da vida muito mais leve e graciosa.
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