A Leptospirose tem uma alta incidência nos períodos chuvosos e é uma doença que possui distribuição mundial e cada região apresenta sorotipos (sorovares) característicos determinados por sua ecologia. Comumente, a doença tem alta prevalência em regiões tropicais, com chuvas torrenciais e solo com PH variando de neutro a alcalino. Em áreas urbanas, os surtos ocorrem nas regiões periféricas propícias às inundações. É uma zoonose de origem bacteriana causada por espiroquetas do gênero Leptospira, sendo as patogênicas pertencentes à espécie L. interrogans, uma doença ainda negligenciada por muitos governos, o que a torna um sério problema de saúde pública.
A Leptospirose apresenta um ciclo sinantrópico de transmissão tendo como fontes de infecção animais, como roedores, cães, bovinos e suínos, que, após um quadro de letospirúria, contaminam o solo ou a água com espiroquetas. Posteriormente, tanto o homem quanto animais susceptíveis, em contato direto com a água ou solo, são infectados pelo patógeno que penetra no organismo através da pele e mucosas oral ou nasal.
Nos seres humanos, a ocorrência da Leptospirose se dá esporadicamente ou de formas epidêmicas, com prevalência em áreas urbanas, tendo correlação com a intensidade pluviométrica, em que os surtos são causados pela exposição de águas contaminadas por urina de animais infectados, principalmente roedores.
No homem, a doença apresenta uma mortalidade média em torno de 15% entre os contaminados. Entretanto, quando há acometimento pulmonar esse índice se elava para 60% a 70%. Os sintomas dependem da apresentação clínica, podendo ser assintomática, leve, moderada ou grave, com duas formas distintas: anictérica e ictérica.
O tratamento da Leptospirose em seres humanos terá a abordagem terapêutica conforme a apresentação clínica. É de suma importância destacar que nem sempre há a coloração amarelada, vista principalmente nos olhos. Portanto, diante do contato com águas de enchentes, alagamentos ou lama, associado a quadros febris ou dores, deve-se informar o médico sobre o contato com possíveis fontes de contaminação. Em casos leves, a terapia sintomática é instituída visando principalmente manter a hidratação. Em casos graves há a hospitalização do paciente com terapia de suporte para manutenção da hidratação e equilíbrio hidroeletrolítico.
Quanto às medidas profiláticas, o cuidado com meio ambiente é primordial, visando eliminar fontes de infecção e meios para transmissão da doença. Em áreas urbanas, medidas para evitar inundações e controle estratégico da população de roedores diminui significativamente os riscos de surtos da Leptospirose para humanos, cães e gatos principalmente. Nos humanos, devido a essa variedade de sorovares, a produção de vacina é inviabilizada por não ter sua eficácia comprovada e, por isso, não há vacinas comerciais disponíveis.
Portanto, a Leptospirose em seu ciclo natural envolve o trinômio homem-animal-ambiente. Com os períodos chuvosos, não somente o poder público deve agir para eliminar os riscos da doença, mas também são necessárias ações de conscientização da população, dando destino adequado ao lixo, por exemplo. A atuação em conjunto do poder público, profissionais da saúde e comunidade científica e da população são fundamentais para o controle e erradicação, não só da Leptospirose, mas também de outras doenças com alta incidência nos períodos chuvosos, como a Dengue, Zika vírus e Chikungunya.
(*) Paulo Felipe Izique Goiozo é médico veterinário, mestre em Patologia Veterinária, doutor em Fisiopatologia e Saúde Animal e professor da Escola Superior de Saúde Única da Uninter.
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