A Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto entrega o título de cidadão ribeirão-pretano ao empresário Paulo Sérgio Fabrino Ribeiro, nesta sexta-feira (14), às 19h, no Plenário “Orlando Victaliano” da Câmara Municipal (Avenida Jerônimo Gonçalves, centro). A sessão solene é aberta a convidados e à população. A cerimônia terá apresentação do Quarteto de Cordas da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto e participação da solista Carla Barreto.
A proposição ao título foi feita em 11 de abril deste ano pelo vereador Alessandro Maraca, em reconhecimento à trajetória de Paulo Fabrino na cidade – sempre entusiasta das artes e das manifestações culturais. Ele, que se encantou pelo desenho ainda menino, mergulhou inicialmente nas nuances das telas das artes plásticas. Essa percepção o move até hoje numa travessia pelo mundo, sempre guiado por sua paixão pela cultura e pela vida, o que imprime uma marca e um olhar artístico em toda a sua trajetória.
Em Ribeirão Preto, não foi diferente. Paulo Fabrino estreitou um relacionamento afetivo com a cidade e criou um legado cultural que foi decisivo para o identificá-lo como um cidadão local. “Ser reconhecido como cidadão ribeirão-pretano é uma sensação surreal, pois vou ser definitivamente filho de Ribeirão. É uma mãe de verdade que eu ganho”, expressando sua alegria e emoção com o título. Para ele, este é um momento histórico e muito especial na sua vida, pois é um apaixonado pela cidade.
O empresário tem 80 anos, vive a arte, pela arte. Foi artista plástico, fortaleceu o teatro em Ribeirão Preto e, depois, quando entrou para o mercado corporativo, o fez entre passos artísticos. Os móveis que possui na renomada empresa Innovare Work têm movimento, beleza, funcionalidade: móvel-arte. Com os recursos do trabalho muito bem-sucedido, pôde se tornar colecionador. É atualmente um dos maiores colecionadores do país e reúne mais de 400 quadros de artistas nacionais. Paulo tem em sua coleção obras de nomes como Portinari, Tarsila e Alfredo Volpi. São os quadros de Odilla Mestriner, entretanto, que ocupam a sala de entrada do apartamento onde mora, em São Paulo. “A gente mostra primeiro a rainha! A única artista brasileira com sete bienais!”, conta.
No princípio, foi a arte. Ele se encantou pelo trabalho de Odilla Mestriner ao primeiro olhar. Passou a acompanhar a artista nas exposições, mesmo sem conhecê-la. Depois, já apresentados, veio a admiração pela história da mulher que, assim como ele, ignorou as tonalidades da mesmice e rompeu os estereótipos e pré-conceitos.
Entre as 420 obras da coleção que Paulo guarda, em parceria com o amigo e também colecionador Rogério Ruiz, há 175 só de Odilla. Sua admiração se transformou também em exposição, livro e semeou um filme, em processo de produção. “É a maior coleção monográfica do Brasil”, revela.
O novo título traz mais um laço entre Paulo Fabrino e a cidade de Ribeirão Preto que, neste mês de junho quando completa 168 anos, o reconhece como filho. Uma oficialização do que, em afetos, sempre pulsou para o empresário. “Minha alma já está nessa cidade que me trouxe uma bagagem para a vida afora”, relata.
A pintura
Paulo Sérgio Fabrino Ribeiro é mineiro. Nasceu em Conceição da Aparecida em 1944. Seu pai era fazendeiro e sua mãe dividia a rotina como dona de casa e professora. “Ela tinha uma sensibilidade muito forte. Imagine ser professora naquela época?”. Tiveram seis filhos. Paulo foi o único a seguir pelas artes, entre as muitas preocupações do pai.
Quando ele ainda era pequeno, a família se mudou para Alfenas, para que os filhos pudessem estudar. Um pouco depois, quando Paulo tinha nove anos, os pais decidiram se mudar para Botucatu, interior de São Paulo. Não demorou para que o menino artista também encantasse o interior paulista com seus desenhos. “Aos 14 anos, eu já dava aulas de pintura para 100 pessoas”, recorda.
Paulo imaginou todo um futuro como professor de desenho. Em 1964, partiu para Ribeirão Preto em busca de formação na Escola de Artes Plásticas e, depois, na Escola Municipal de Belas Artes. Foi aluno de renomados artistas como Francisco Amêndola e Bassano Vaccarini. “A paixão pelas Artes Plásticas está nesse desejo de retratar o que eu vejo por meio do desenho, que depois passa pela pintura. É uma força que vem de dentro”, explica.
Quando chegou a Ribeirão, viveu por dois anos na casa de um tio, que o recebeu com todo carinho. Depois, morando em uma pensão, trabalhava com sua arte, inclusive na área publicitária, para arcar com as despesas.
Decidiu, então, cursar Arquitetura. Passou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, mas não conseguiu arcar com custos tão mais altos. “Não tive dinheiro para ir. No ano seguinte, abriu o curso de Engenharia em Ribeirão Preto. Eu entrei achando que tinha algo a ver com Arquitetura”. Não tinha. E, para não se perder entre a exatidão dos números e projetos civis, retomou outra paixão.
O teatro
Paulo Fabrino apresentou sua primeira peça, “O Telescópio”, em Botucatu, no ano de 1963. Chamado para contracenar em cima da hora, teve uma semana para decorar as falas. E quis somar outra função. “O cenário era uma fazenda. Eu cresci em uma fazenda. Olhava para aquilo e dizia: ‘Não é assim!’. Então, eles me deixaram fazer a cenografia”.
Aos 18 anos, em sua estreia, foi premiado como melhor ator coadjuvante e pelo cenário no I Festival de Teatro Amador do Estado de São Paulo. Em Ribeirão Preto, continuou nos palcos. Criou grupos de teatro e foi somando premiações e aplausos. Cursando a faculdade de Engenharia Civil no Centro Universitário Moura Lacerda, em 1970, encontrou no teatro o respiro necessário para o curso que não lhe trazia encantamentos. “Foi minha válvula de escape”.
A frente do Teatro Universitário do Moura Lacerda, conquistou bolsa para o curso de Engenharia. Também dava aulas de desenho na própria faculdade para arcar com as mensalidades. Neste período, ajudou a criar o Teatro de Arena e a fundar o Teatro Municipal de Ribeirão Preto e relembra o orgulho de ver o grupo local ser aplaudido efusivamente pelo público em sua estreia no palco. “A coisa mais gostosa do teatro é o aplauso do público no final do espetáculo”. Em 1973, Paulo passou a integrar o grupo de teatro do Sesi e se mudou para São Paulo. Contracenou com grandes nomes, como Tony Ramos e Lilian Fernandes, e continuou a somar prêmios nos palcos.
Um outro caminho começou a se desenhar nessa mesma época: foi convidado para trabalhar em uma empresa de móveis e, logo, passou a desenhar projetos. “Eu caí dentro da melhor empresa de mobiliário do mundo. Era uma revolução do conceito mobiliário. Eu vendia esses móveis como se estivesse fazendo cenários dentro das empresas”. Como bom artista, ele não deixou a arte. Encontrou novas formas de trazê-la para sua vida. “Logo eu comecei a ganhar dinheiro e pude comprar obras”, lembra.
A Innovare Work, empresa que mantém em sociedade, soma anos de história, com milhares de projetos desenvolvidos no Brasil.
A Odilla
“O desenho dela era demais para minha cabeça. Era uma força muito grande. Foi um impacto”, conta o empresário. Paulo estava no primeiro ano do curso de Artes Plásticas quando conheceu a obra de Odilla, em uma exposição. “Para se ter ideia do quanto o impacto foi forte, eu pensei: ‘acho que vou parar porque nunca vou chegar nesse nível’. Ele não parou. Continuou a desenhar e a seguir a artista, que só conhecia pelos comentários dos amigos e pelas obras. “Eu visitava todas as exposições que ela fazia. Nessa época, ela já era muito conhecida”.
Quando entrou na faculdade de Engenharia teve a oportunidade de conhecer a artista durante um almoço na casa do irmão dela, que era seu colega de faculdade. Um vínculo foi criado para toda a vida. “Fui morar em São Paulo e sempre ia nas exposições de Odilla. Fazia questão de estar presente nos vernissages, para encontrá-la, mas nunca havia comprado uma obra”.
O primeiro quadro de sua coleção foi adquirido em 1982. A partir daí, Paulo começou a adquirir obras com frequência. Todo ano, comprava dois ou três quadros. Já morava em São Paulo, mas viajava sempre a Ribeirão para visitar a artista (e sua família, que continua por aqui).
“Ela começou a me orientar sobre a importância das obras, para que eu formasse uma coleção”, acrescenta. Juntos, dividindo a mesma paixão, Paulo e Rogério fizeram crescer o catálogo de peças. “Eu vi a dificuldade da Odilla em fazer o trabalho dela. Primeiro, pela questão física. Ela pintou mais de 1,5 mil obras com problemas de movimentação nas mãos. Depois, ela era uma mulher, no interior de São Paulo, década de 50, e conquistando tudo o que ela conquistou! Ela se superou de todas as formas”.
Em dezembro de 2008, esteve com a amiga, já doente, acamada por um câncer no fígado. Pôde lhe entregar o esboço do livro que estava produzindo havia seis anos. “Odilla Mestriner: o olhar do colecionador” entrelaçou a história da artista com a de seu admirador, retratando a trajetória dela com as obras que integravam a coleção dele.
A artista plástica faleceu em fevereiro de 2009, aos 80 anos. Seu legado permanece. Em março de 2023, Paulo e Rogério trouxeram a coleção para uma exposição no Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP). Agora, estão produzindo o segundo livro e também um filme com a história da artista. “Ela foi uma mulher com letra maiúscula. Um grande ser humano. Uma das grandes artistas do Brasil”, sinaliza Ribeiro.
O tempo
O apartamento onde Paulo vive, em São Paulo, quase se confunde com uma galeria entre tanta arte. Os quartos, transformados em sala para a exposição das obras, se dividem entre os artistas. Na primeira sala, está Odilla. Em outra, estão mais nomes do Modernismo em Ribeirão Preto, como Bassano Vaccarini e Amêndola. E há mais uma, com artistas do Modernismo brasileiro: Tarsila, Portinari, entre outros.
Paulo continua buscando e fomentando a arte nacional. Hoje, ele compartilha as obras que aprecia em um clique, com uma conta muito ativa no Instagram. Ele também gosta de compartilhar pelas redes sociais sua rotina, os passeios e a boa gastronomia: seus prazeres da atualidade. O hábito já lhe rendeu cerca de 82,5 mil seguidores. Ele afirma que não tem nenhuma previsão de pausa ou parada. “Vou parar? Quem disse? Vou parar de trabalhar? De fazer arte? Para quê?”, diz. Paulo segue – entre os encontros e cores, temperos e palcos. História desenhada entre muitas nuances, sempre vibrantes.
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VALTER JOSSI WAGNER
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