Com 43 anos dedicados ao ensino de natação a bebês e crianças, a brasileira Sandra Rossi Madormo é a vencedora do prêmio internacional Virginia Hunt Newman, que reconhece profissionais com contribuições notáveis aos esportes aquáticos. Fundadora do Inati (Instituto de Natação Infantil), a laureada celebra o destaque ao Brasil, líder na América Latina em afogamentos, para que a conscientização da segurança aquática ganhe mais força e diminua os índices de incidentes.
Os afogamentos foram a causa de 5.488 mortes no Brasil em 2022 – segundo o DataSUS do Ministério da Saúde e apontado no relatório da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) –, que podem diminuir com o ensino da natação, que é uma importante camada de proteção. “Os números ainda estão num patamar muito elevado, o que reforça a necessidade de intensificação do trabalho e que ele seja mais universal, abrangendo crianças, adolescentes e adultos de todas as classes sociais, já que o afogamento não discrimina por faixa etária, cor, raça, gênero ou classe social. A premiação pode ser mais uma forma de chamar atenção para este tema tão importante, mas que ainda não é percebido como tal pela população em geral”, diz Sandra.
O prêmio Virginia Hunt Newman foi criado há 19 anos pela WABC (World Aquatic Babies and Children Network) e realizado pelo ISHOF (International Swimming Hall of Fame), com intuito de dar continuidade à filosofia de ensinar os bebês a nadar de maneira gentil, amorosa e atenciosa para que aprendam a amar a água com segurança. Sandra é a segunda brasileira vencedora da premiação, sendo que o primeiro foi José Maria Fontanelli, em 2008. “Ele foi meu técnico, e aos 15 anos, me convidou para ser sua assistente nas aulas, o que determinou a minha vida a partir daquele momento. Hoje, ele não está mais entre nós, mas tenho certeza que ficaria muito feliz de ver sua pupila receber a mesma premiação”, vibra.
O impacto da primeira infância nos índices de afogamento
Os números de afogamentos são alarmantes: 15 brasileiros morrem diariamente por essa causa – um a cada uma hora e meia – sendo três crianças e dois adolescentes. Estima-se que os incidentes não fatais somem mais de 100.000 por ano, segundo a Sobrasa. O ensino da natação é uma ação efetiva, mas não a única para diminuir esses índices. A redução de 48% na mortalidade por afogamento em 26 anos (1995-2022), ainda conforme a Sobrasa, aponta que a adoção das diferentes medidas em conjunto é o caminho acertado na luta contra a endemia.
As Nações Unidas, através da OMS (Organização Mundial da Saúde), antecipam crescimento nos próximos anos, se não houver intervenção drástica com uso da prevenção. “Temos que incentivar o ensino e a prática da natação em todos os extratos da população, por ser uma atividade que propicia a boa convivência com um ambiente não natural para o ser humano. Em países onde a natação é uma prática disseminada na população, como a Austrália, os índices de afogamentos são menores”, aponta Sandra. Não à toa, a ISSA (International Swim Schools Assocition), entidade que congrega as escolas de natação em mais de 30 países e cujo representante no Brasil é o Inati, dissemina o ensino da natação em busca da diminuição desse impacto previsto.
Quanto antes aprenderem habilidades, competências e comportamentos preventivos de segurança aquática, melhor, segundo a profissional. “Sabemos que na primeira infância existe uma janela de oportunidade sem igual para o aprendizado e desenvolvimento e para que sejam ensinados os comportamentos de segurança aquática para os alunos e suas famílias e, conforme eles vão crescendo, assimilem a mentalidade preventiva nos ambientes aquáticos”, diz a especialista no ensino de bebês e crianças.
Sandra encontrou nesse nicho seu propósito de vida, razão pela qual criou o Congresso Brasileiro de Natação Infantil – maior evento anual para reunir professores de natação infantil – e o Inati, dentre outras iniciativas que lhe fizeram ser vencedora do 19º Virginia Hunt Newman. “Espero que a premiação traga um pouco mais de atenção para a natação infantil e sua importância para o desenvolvimento global das crianças desde a mais tenra idade”, finaliza.
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LAIS MARCIA DE OLIVEIRA
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