A gasolina no Brasil já chegou a atingir patamares superiores que o preço praticado no exterior. Na opinião do economista Hugo Barbe, o custo do refino e da logística do combustível é muito alto no país. Ele explica que a gasolina acaba ficando mais cara no país do que no exterior, em alguns momentos, porque grande parte do preço final da gasolina são impostos. “O Brasil ainda é um país muito caro — e precisa reduzir carga tributária e os custos de armazenamento do combustível e do transporte, para que a gasolina fique mais barata para a população em geral”, avalia.
Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), apesar de a gasolina nacional estar, hoje, R$0,03/litro mais barata, a situação ainda pode mudar, pois o mercado internacional está muito volátil e sensível aos movimentos geopolíticos. Conforme a Abicom, os preços médios da gasolina operam na paridade ou com diferenciais negativos, a depender do polo analisado. O mercado internacional e o câmbio pressionam os preços domésticos. PPI acumula redução de R$0,42/L, desde o último reajuste nos preços da Petrobras.
Para Hugo Garbe, é preciso ficar atento à guerra entre Israel e o Hamas, na Palestina na faixa de Gaza. “Ela movimenta o Oriente Médio, que é um grande produtor de petróleo no mundo. Então a expectativa é ver se o Irã, por exemplo, que é um grande produtor de petróleo, vai se envolver nessa guerra.” O especialista diz que, se isso acontecer, pode haver interferência no preço do combustível. “Se de fato entrar nessa guerra, pode sim ter um impacto significativo no preço das commodities do petróleo no mundo todo”, aponta.
O professor do departamento de ciências contábeis da Universidade de Brasília, Jomar Rodrigues, acrescenta: “Cenários de conflitos, pandemias e demais adversidades precisam ser estabilizados, reduzidos e com isso a gente vai ter uma possibilidade de ver com outros olhares a nossa economia e uma estabilidade do preço de combustível mais razoável”, reforça.
O economista Luigi Mauri ainda espera um cenário de alta do preço da gasolina para os próximos dias. “O governo vive um cenário de necessidade de aumento de receita — e essa receita tem que vir de algum lugar, ela acaba vindo da gasolina nesse momento”, observa.
Quem precisa se locomover de carro muitas vezes reclama dos preços. Augusto Nascimento (42) é funcionário público e conta que se assusta com o valor da gasolina sempre que vai abastecer o carro.
“Essa oscilação constante de preços dificulta muito o planejamento de quem usa carro com muita frequência como eu. Então fica difícil a gente se planejar em termos de gastos com combustível porque a gente não sabe se vai subir, se vai descer. Isso complica um pouco a vida do motorista”, revela.
Investir na produção
De acordo com o economista Hugo Garbe, o país poderia ter um cenário melhor se trabalhasse a independência na produção. “O Brasil poderia, por exemplo, investir no refino de petróleo. Poderia diminuir a dependência de atores externos de outros países, poderia reduzir carga tributária”. Para ele, existem outros potenciais. “Tem algumas variáveis que estão ao nosso alcance e o Brasil não está fazendo. Quando você fala de reservas naturais não tem muito o que fazer. Ou seja, o país ele tem ou ele não tem. Mas outras variáveis como, por exemplo, impostos e investir no refino por exemplo o Brasil poderia fazer e não está fazendo”, analisa.
O professor do departamento de ciências contábeis da Universidade de Brasília, Jamar Rodrigues, lembra que conforme a política tributária dos governos, o preço da gasolina pode ser influenciado negativamente ou positivamente.
“Quando o governo injeta incentivos, como redução de tributos federais, congelamento de base de cálculos de ICMS, isso gera um valor de venda menor no nosso país do que em mercados internacionais. Ou seja, finaliza, o valor volta a patamares iguais ou superiores — o que pode gerar preços maiores de venda no consumidor aqui no nosso país, quando comparado fora de nosso país”, destaca.