Em um editorial recente da revista Frontiers in Oncology, pesquisadores do Departamento de Oncologia Torácica do Instituto Oncoclínicas no Rio de Janeiro, liderados por Carlos Gil Ferreira, apontam para a evolução e os desafios na aplicação de testes genéticos e terapias direcionadas emergentes para o câncer de pulmão de não pequenas células (CPNPC).
O foco está nos avanços que revolucionaram a compreensão e tratamento do CPNPC, especialmente do adenocarcinoma. “A medicina de precisão mudou a forma como enfrentamos o câncer de pulmão”, destaca Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas, ao lado dos coautores Marina Xavier Reis e Gilson Gabriel Viana Veloso.
Os pesquisadores apontam três bases essenciais para essa transformação: avanços na pesquisa que esclareceram como o tumor funciona, a utilização de conjuntos de genes abrangentes que examinam o DNA e RNA, e a criação de inibidores de tirosina quinase seguros e eficazes, testados em estudos clínicos cruciais, que podem impedir o crescimento descontrolado das células cancerígenas.
“Houve uma evolução das técnicas de testes moleculares usadas para diagnosticar o câncer de pulmão, especialmente o de não pequenas células (CPNPC). Anteriormente, métodos como imunohistoquímica (IHC), hibridização in situ por fluorescência (FISH) e reação em cadeia da polimerase (PCR) eram comuns para identificar certas características ou mutações genéticas no tumor. No entanto, houve uma transição significativa para uma abordagem mais abrangente e precisa, conhecida como sequenciamento de nova geração (NGS)”, explica o oncologista. O NGS é uma técnica avançada que permite examinar o DNA e o RNA do tumor de maneira mais detalhada, identificando uma gama mais ampla de alterações genéticas que podem impulsionar o câncer.
A recomendação é para que seja incluído o sequenciamento de RNA nos testes, além de ser necessário amostragem em diferentes estágios da doença para identificar mecanismos de resistência. “É importante não apenas analisar o DNA, mas também incorporar o sequenciamento de RNA nos testes. Isso é crucial porque o RNA fornece informações sobre como os genes estão sendo expressos e pode revelar aspectos funcionais do tumor”, afirma. É ressaltado, também, o potencial da biópsia líquida como complemento ou substituto da biópsia de tecido. A inclusão de ambos os tipos de biópsias para todos os casos de câncer de pulmão é levantada como uma possibilidade, visando garantir tratamento personalizado para todos os pacientes.
No entanto, apesar dos avanços, os desafios persistem para ampliar os benefícios da medicina personalizada no tratamento do câncer de pulmão em escala global. Questões de custo, qualidade das amostras e acesso limitado a testes e medicamentos direcionados ainda são barreiras significativas. “Para superar tais desafios, é urgente um esforço conjunto entre formuladores de políticas, empresas de saúde e grupos de apoio. É de suma importância expandir o acesso aos testes moleculares para que mais pacientes possam obter melhores resultados e qualidade de vida. O progresso na medicina de precisão é evidente, mas a superação das barreiras atuais é essencial para garantir que todos os pacientes possam se beneficiar desses avanços”, conclui.
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