Jorge Calazans*
São Paulo, o colosso econômico do Brasil, está sob crescente escrutínio devido a uma aparente incapacidade de erradicar esquemas de pirâmides financeiras, que têm devastado economicamente centenas de milhares de vítimas. A aplicação das leis de proteção ao investidor é um ponto de interrogação, especialmente em face de três casos notórios: Atlas Quantum, Genbit e GR Canis Majoris.
A plataforma Atlas Quantum, que prometia altos rendimentos via criptomoedas, atraiu um vasto número de investidores antes de desmoronar, deixando-os sem suporte. De maneira semelhante, a Genbit, antes Zero10, cessou pagamentos aos seus clientes, muitos dos quais residem em São Paulo. O menos conhecido, GR Canis Majoris, também causou prejuízos consideráveis.
Um ponto central desses casos é a falta de uma resposta legal e regulatória eficaz por parte das autoridades paulistas. Os responsáveis pelos esquemas muitas vezes seguem impunes, abrigados pela burocracia e por uma aplicação da lei falha. Essa ineficácia alimenta uma cultura de impunidade e abala a confiança no mercado financeiro. A situação em São Paulo contrasta acentuadamente com a de estados como Espírito Santo e Rio Grande do Sul, que implementaram operações contra a Telex Free e a Unick Forex, respectivamente, e mostraram resultados concretos. Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia seguiram o exemplo, com ações efetivas contra esquemas semelhantes.
Notáveis também são os esforços do Paraná, Rio de Janeiro e Paraíba. Em Curitiba, foram desmantelados grandes esquemas como RentalCoins e Bitcoin Banco, enquanto o “Faraó dos Bitcoins” enfrenta uma prisão de segurança máxima no Rio de Janeiro pelos seus delitos financeiros. No Nordeste, a atuação do Ministério Público da Paraíba contra a Braiscompany levou à apreensão de mais de 180 milhões de reais.
Diante disso, o silêncio operacional de São Paulo frente a fraudes evidentes como Atlas Quantum e Genbit é alarmante. Há investigações em curso, mas uma ausência flagrante de operações concluídas ou deflagradas. Tal discrepância sugere que o estado pode estar inadvertidamente se tornando um terreno fértil para atividades ilícitas. A persistência de esquemas de pirâmide financeira aponta para falhas significativas no sistema de vigilância e repressão. Esquemas modernos, especialmente os que envolvem criptomoedas, exigem uma abordagem sofisticada e multidisciplinar.
Para que São Paulo mantenha sua reputação como um centro financeiro seguro e regulamentado, é crucial que as autoridades reconheçam a gravidade do problema e intensifiquem as medidas de fiscalização e punição. Deve-se ampliar a educação dos investidores sobre os riscos desses esquemas e fortalecer a cooperação entre diferentes jurisdições para prevenir a propagação de fraudes. O combate às pirâmides financeiras em São Paulo não é só uma questão de proteção ao investidor, mas de integridade econômica e justiça social. A inação não é uma opção; é necessária uma resposta rápida e decisiva para proteger os cidadãos e a confiança no sistema financeiro de São Paulo contra fraudes futuras.
*Jorge Calazans é advogado especialista na área criminal, conselheiro estadual da Anacrim e sócio do escritório Calazans & Vieira Dias Advogados, com atuação na defesa de vítimas de fraudes financeiras.
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