Das ruas para as paredes brancas da AM Galeria SP, SHOW! é uma exposição de quatro artistas que celebra as vozes, a força fruída da luz e da energia popular encontrada nos centros urbanos do Brasil. Carla Fonseca, Desali, Enivo e Priscila Rooxo vêm das três maiores capitais do país, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Artistas que começaram a fazer arte despretensiosamente nas ruas e ao longo dos anos, através de sua experimentação, desenvolveram técnicas artísticas multivalentes e, embora mostrassem profunda sofisticação na prática da pintura e no conhecimento da história da arte, mantiveram a vitalidade das ruas.
Após refletir sobre conexões menos óbvias entre eles, o curador Simon Watson disse: “Uma forte tendência para a prática criativa deste grupo de nômades urbanos é o seu compromisso com o desenvolvimento pessoal através de residências artísticas. Conheci Desali pela primeira vez quando fiz uma visita à residência artística Kaaysá, no litoral norte de São Paulo. Fiquei impressionado não apenas com sua produção artística, mas também com sua adaptabilidade para criar através das várias residências artísticas que frequentou pelo país. Meu primeiro contato com as pinturas de Priscila Rooxo foi em sua primeira exposição individual na Francisco Fino Galeria, em Lisboa, resultado direto de uma residência artística em Portugal. E, como diretor fundador do LUZ_AIR, programa de residência artística tricontinental, estou profundamente familiarizado com as práticas de criação artística de Enivo, que participou nas nossas residências em Lisboa e Nova York, e com a produção artística de Carla Fonseca, nas residências em São Paulo e Lisboa. Cada um é um ser criativo único, que consegue viver numa mala durante longos períodos de tempo e, ao fazê-lo, entrar em contato com novos mundos, novas comunidades, novas formas de ser. A vitalidade das obras que serão vistas em SHOW! surge da abertura desses quatro artistas para convidar os visitantes a examinar o mundo de novas maneiras.”
Simon Watson diz que desde suas primeiras visitas ao Brasil ficou fascinado pela energia explosiva encontrada nas ruas e nos prédios dos centros urbanos. “Sejam lúdicas, políticas, sensuais, raivosas e psicodélicas, as ruas são provocativas e fazem pensar sobre a situação atual. Me lembro de andar pelas ruas de Nova York na década de 1980, quando a cultura de rua estava em expansão, e de visitar estúdios de artistas e galerias no Lower East Side e no SoHo. Essa energia galvânica de Manhattan é agora apenas uma memória, varrida por boutiques e bistrôs, mas aqui no Brasil me sinto reconectado à efervescência da cultura de rua, aquela fonte de energia que fez de Nova York um centro cultural. Cada um dos quatro artistas de SHOW! contribui para trazer a cultura de rua brasileira para dentro de casa”, diz.
Para Watson, a exposição tem origem no Enivo. “Provocados ao ver o que parecia ser a milésima pintura facial anônima feita por ele em um prédio ou passagem subterrânea, nós o localizamos pelo Facebook e o visitamos em seu estúdio.
“Nesta mostra apresentarei a série ‘caixinhas’, pinturas feitas entre fevereiro e julho de 2024 sobre caixas de madeira encontradas e doadas, de vinho e também gavetas Criando um cenário tridimensional, cada caixa carrega um universo imaginário onírico, retratando sonhos, histórias vividas ou ouvidas por aí. Sou um prisma que recebe a luz da criação a transformando em cores e formas”, diz Envio, E o curador emenda: “Suas caixinhas fazem referência vívida à fusão das alegrias simples de viver com a arte elevada do Jardim das Delícias Terrestres, de Heironymous Bosch.”
“Para falar sobre meu trabalho, é importante frisar minha infância. Nasci e cresci na periferia de Belo Horizonte, paisagem que circunda minhas pinceladas minimalistas e econômicas e também se reflete no uso de material descartado, como parte da linguagem de construção de um alicerce”, introduz Desali, que utiliza tinta acrílica em suportes de madeira reciclada em sua produção de obras em pequena escala, que muitas vezes reinterpretam e transformam figuras familiares, sejam elas pessoas, lugares ou objetos. Inspirado pela perspectiva de Alfredo Volpi, de maneira poética o artista reflete tanto sobre sua própria vivência quanto a de amigos e familiares da periferia de Belo Horizonte. Junto às suas composições visuais encontram-se palavras, ora alegres, ora dolorosos, às vezes isoladas, como frases poéticas, dando às pinturas significados em camadas.
“Minha pesquisa surge da minha interação e conexão com a natureza, explorando uma atmosfera lisérgica, misteriosa e ao mesmo tempo confortável. Faço da natureza a protagonista nos meus quadros, com a intenção de assimilar drama humanos e também chamar atenção para maior urgência que existe hoje”, diz a mineira Carla Fonseca. São pinturas impetuosas, inspiradas nas tradições da arte modernista brasileira que remontam a Tarsila do Amaral, em conexão com o corpo humano e uma prática artística que ecoa as obras dos povos indígenas, pintando flora e fauna abstratas em seus corpos nus. Durante uma década, o trabalho diário de Carla Fonseca foi tatuar, fazer desenhos com tinta e sangue. E é essa prática de perfurar a carne humana para fazer desenhos num corpo, que agora conduz sua prática artística, sugerindo uma fauna antropomórfica, aludindo sensualmente à anatomia humana e ao sangue correndo nas veias e nas dobras mais íntimas da pele. Tingida de dor e erotismo, primordial e reveladora do subconsciente, a visão artística de Fonseca é uma vida íntima, rica em selva e exuberante.
Priscila Rooxo faz pinturas que capturam sua comunidade na periferia do Rio de Janeiro, uma área conhecida pela alta violência e criminalidade e pela falta de serviços e infraestrutura básicos. Visivelmente influenciada pelo graffiti e pelas manifestações culturais comumente associadas à periferia – e explorando claramente temas importantes como a pobreza, a exclusão social e o reconhecimento do papel das mulheres na sociedade – a prática pictórica de Rooxo retrata as pequenas celebrações de um povo que se eleva acima dos obstáculos cotidianos para assumir uma atitude coletiva. “Nesta coletiva trago a narrativa de corpos dissidentes em ascensão. Seja pela própria presença em lugares de poder ou, como na série Identidade, repleta de signos e códigos que representam pessoas marginalizadas e periféricas, a representação da quebra de paradigmas. E pergunto: Para quem é ou não a História da Arte? O que pode ser considerado arte ou não?”, explica Priscila, que trabalha para que, através do seu olhar, esse levante seja um novo horizonte para as artes na cultura mundial.
Serviço:
SHOW!
Exposição dos artistas Carla Fonseca, Desali, Enivo e Priscila Rooxo
Curadoria: Simon Watson
De 10 de agosto a 6 de setembro
AM Galeria SP
End.: Av. Nove de Julho 4865, 1A, Itaim Bibi
Tel: +55 11 3071-2770 | +55 11 98181-6888
Horários: De segunda à sexta das 10h às 19h, sábados das 10h às 14h
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ALISSON SCHAFASCHECK
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