Um dos fotógrafos mais renomados do mundo, o brasileiro Sebastião Salgado ganha uma exposição no Museu Temporário do SESI Lab, em Brasília, a partir deste sábado (26). A mostra “Trabalhadores” apresenta 150 imagens impressas de forma analógica que retratam o mundo do trabalho pelo mundo. A exposição fica em cartaz até 28 de janeiro de 2024.
O trabalho é resultado de viagens realizadas entre 1986 e 1992 e tem como objetivo retratar a busca do fotógrafo em “representar os processos manuais de produção ainda existentes, antes que desapareçam completamente”.
“Nesse projeto quis documentar o fim da primeira grande revolução industrial, na qual o trabalho era extremamente importante. Durante seis anos, viajei pelo mundo em busca da presença da mão humana na produção. Máquinas inteligentes estavam chegando às linhas de produção. Os computadores e a robotização estavam começando a substituir a força de trabalho”, destaca Sebastião Salgado.
A curadoria da mostra foi realizada pela design Lélia Wanick Salgado e conta a história do período sob uma perspectiva arqueológica visual. A seleção de fotos reúne um mundo de nuances que vão desde as plantações de chá em Ruanda aos cemitérios de navios em Bangladesh, passando por países como Rússia, China, Índia, França, Polônia, Cuba — e no Brasil, os garimpos da Serra Pelada e as plantações de cana-de-açúcar.
Segundo o coordenador-geral das exposições de Sebastião Salgado no Brasil, Álvaro Razuk, a exposição está dividida em capítulos e retrata transformações no mundo do trabalho.
“São 6 capítulos, então a exposição está estruturada na forma como aparece no livro. E fala de vários tipos de formas de trabalho, por exemplo, fala do cortador de cana que se liga com a criação do Proálcool,que é um trabalho bastante precarizado. Hoje em dia isso é mecanizado em muitos lugares, mas eu tenho certeza de que esse tipo de trabalho não se extinguiu. Eu acho que o trabalho do Sebastião tem a formação dele de jornalismo, como ele pensa, como ele fala das reportagens. Ele estrutura todas essas coisas, não é só um momento em algum lugar específico. Então esse acervo todo vai ter essa importância de memória, de documentação.”
Após um intervalo de mais de 20 anos desde a primeira exposição no Brasil, “Trabalhadores” chega pela primeira vez à capital. Salgado também é o primeiro artista a expor na galeria de exposições temporárias do museu Sesi Lab.
De acordo com a gerente-executiva de Cultura do SESI, Claudia Ramalho, a conexão entre a mostra e o tema anual das ações do Sesi Lab 2023 – Futuro das Profissões – foi determinante para a escolha da exposição.
“A primeira exposição com o tema o “futuro das profissões” foi em novembro de 2022. E a grande mensagem desta exposição era exatamente a dimensão das competências que estão fundadas na educação. Isso para nós foi muito importante justamente para dar continuidade a esse tema. E a escolha da exposição do Sebastião Salgado foi muito intencional, porque ele percorreu o mundo de 1986 até 1992 e fez um registro histórico a partir de processos de produção. Então assim, são as mãos de homens e mulheres que produziam. E é interessante, porque são profissões que não existem mais; algumas são existentes”, destaca.
Para o diretor de operações do Sesi, Paulo Mól, a exposição tem como objetivo gerar uma reflexão sobre os processos históricos do mundo trabalho com o atual contexto em que a tecnologia e novos processos estão alinhados com o trabalho.
“Quando a gente pensar especificamente sobre o futuro do trabalho, é importante a gente olhar para o que foi, para que a gente possa fazer a projeção do futuro para frente. O quanto mudou? Então tenho certeza que vir ao Sesi Lab olhar o acervo “Trabalhadores” do Sebastião Salgado vai provocar reflexões muito importantes, muito relevantes”, afirma.
Segundo a gerente-executiva de Cultura do Sesi, para o próximo ano o tema escolhido foi bioeconomia. Os trabalhos para a produção de uma nova exposição já iniciaram e estão ligados ao tema da Amazônia.
Exposição
A mostra “Trabalhadores” vai estar aberta à visitação a partir do sábado (26) das 10h às 19h. Durante o primeiro final de semana a visitação será gratuita para o público. Depois, R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia e gratuito somente para crianças de até 10 anos, pessoas com deficiência, professores e alunos da rede SESI e SENAI e da rede pública de ensino, trabalhadores da indústria do Sistema Indústria, público em situação de vulnerabilidade social e membros associados do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
De acordo com a gerente-executiva de Cultura do SESI, além da exposição será realizado no sábado (26) um conjunto de atividades.
“A gente vai ter oficinas, workshops e vai ter a exibição do documentário O Sal da Terra. É um documentário que foi indicado ao Oscar em 2015 e que conta a trajetória de Sebastião Salgado. Para a exibição do documentário a gente vai contar com o filho de Sebastião Salgado, Juliano Salgado, que vai exibir o documentário às 15h e depois vai conversar com os visitantes sobre a produção do documentário. Além de toda essa programação, a gente também vai ter uma programação cultural de apresentações artísticas”, explica.
Sebastião Salgado
Sebastião Ribeiro Salgado nasceu em Aimorés, Minas Gerais, em 1944. Considerado uma referência para a chamada fotografia humanista, Sebastião Salgado, além de registros fotográficos sobre diversos hábitos e culturas, denuncia, por meio de seus trabalhos, situações de desigualdade social e exploração de diferentes povos ao redor do mundo.
Formado em economia, teve sua primeira experiência no fotojornalismo em 1973 para as agências Gamma, Sygma e Magnum, enquanto residia em Paris, capital da França. Tem passagem pela agência Magnum, onde se destacou por retratar o atentado sofrido pelo então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan (1911-2004), em 1981.
Conhecido por trabalhos como Êxodos (2000) e Gênesis (2013), Sebastião Salgado é o primeiro brasileiro a integrar a Academia de Belas Artes da França.