Maeve Jinkings conhecia muito bem os detalhes e desfechos do enredo da obra original de “Vale Tudo”. Porém, assim que recebeu uma ligação do diretor artístico Paulo Silvestrini, a atriz logo recebeu um alerta sobre o destino de sua personagem. Ao contrário da versão original, a doce Cecília não contará com final trágico. Na versão de 1988, Cecília, papel de Lala Deheinzelin, e Laís, de Cristina Prochaska, administravam uma pousada em Búzio, no Rio de Janeiro. Apesar de viverem juntas, o relacionamento homoafetivo era mais discreto, sem beijos ou toques. Na época, a Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP) ordenou o corte de muitas cenas do casal. “Assim que o Paulo me ligou, ele avisou: ‘ela não morre’. Não faz sentido ela morrer em 2025. A Manu (Manuela Dias, autora) também me falou a mesma coisa. Não faz sentido matar a Cecília nos tempos de hoje”, afirma.
A personagem pode até ter escapado de um desfecho trágico. Mas a esposa de Laís, vivida por Lorena Lima, ainda terá alguns infortúnios em seu caminho. Engajada na luta pela preservação do meio ambiente, Cecília passará a ser perseguida. Ela, que recentemente adotou uma filha com a esposa, acabará baleada após enfrentar um fazendeiro em Paraty e também será vítima de uma sabotagem no carro. A advogada ambientalista sofrerá um acidente e ficará internada em estado grave. “A gente remonta ‘Hamlet’, grandes clássicos, então essa é a ideia de trazer o Brasil de 37 anos depois, que na época estava recém-saído da ditadura e ainda trazia marcas da censura. Agora vamos falar dos temas em um outro país, que ainda permanece algumas resistências, mas a gente caminha. Apesar de ter gente com saudosismo desse obscurantismo, a gente vem caminhando”, explica Maeve, que relembra uma entrevista surpreendente durante a exibição da primeira versão da novela. “Vi uma matéria na época da novela perguntando para as pessoas nas ruas se homossexuais tinham de morrer na novela e elas falavam que achavam sim, que tinham de morrer. Hoje em dia isso não é mais aceitável”, completa.
Há quase dois meses no ar, Maeve tem celebrado a abordagem do relacionamento entre Cecília e Laís diante das câmeras. Ao contrário da versão original, a relação das duas não é velada ou escrita nas entrelinhas. “Ela não são retratas como amigas ou primas. Elas são um casal. Isso é um grande avanço porque não estamos falando de cinema independente, né? É uma novela das nove. É um tipo de produção que tem um público mais tradicional e conservador. Elas, no entanto, são retratadas sem medo de existir”, valoriza.
Além do papel de destaque na novela das nove, Maeve também está prestes a estrear um novo projeto no streaming. Ela está no elenco da segunda temporada de “DNA do Crime”, original Netflix. Na produção, ela vive a protagonista Suellen e estrelará cenas repletas de tensão e adrenalina. “Eu amo fazer séries de ação. ‘DNA do Crime’ é um atletismo emocional, mas também físico”, aponta.
“Vale Tudo” – de segunda a sábado, às 21h30, na Globo.
Conexão em cena
Os primeiros dias de trabalho de “Vale Tudo” foram positivamente surpreendentes para Maeve Jinkings. A atriz ainda não conhecia a intérprete de Laís na história. Porém, após poucas horas de trabalho de preparação ao lado de Lorena Lima, Maeve rapidamente encontrou a conexão com sua parceira de cena. “Ela é muito disponível, generosa e luminosa. No final do primeiro dia, chegaram a perguntar se já tínhamos trabalhado juntas ou se nos conhecíamos. Acho que foi um grande encontro. A Lorena é uma atriz fantástica e que vem de uma companhia de teatro enorme”, elogia.
Instantâneas
# Maeve estudou atuação na renomada Escola de Artes Dramáticas da Universidade de São Paulo.
# A atriz é natural de Brasília, Distrito Federal.
# Maeve também pode ser vista na primeira temporada de “Os Outros”, original Globoplay.
# Ela também está no elenco do aclamado filme “Ainda Estou Aqui”, que levou o prêmio de “Melhor Filme Internacional” no Oscar.
MAEVE JINKINGS, a Cecília de “Vale Tudo”, da Globo, por Caroline Borges | TV Press