A visita do governador da província de Buenos Aires, Axel Kiciloff, a Brasília marcou um momento significativo na política internacional da América Latina. Recebido com destaque por autoridades brasileiras, incluindo ministros de Estado e o próprio presidente Lula, Kiciloff não apenas reforçou a importância das relações diretas entre sua província e o Brasil, mas também destacou um fenômeno crescente na região: a ascensão de governadores e líderes subnacionais como importantes atores na política externa.
Kiciloff, conhecido por ser um economista de reputação internacional e um dos principais opositores do presidente argentino Javier Milei, encontrou na visita uma oportunidade de desviar a atenção das tensões criadas pela condução ideológica do governo argentino. Milei, com sua abordagem radical, tem gerado ruídos nas relações entre Argentina e Brasil, alinhando a condução de sua política externa com uma base ideológica evidente. Nesse contexto, a presença de Kiciloff em Brasília assume uma dimensão que vai além do simples ato diplomático; é uma tentativa de estabelecer um canal de cooperação que busca contornar uma condução errática nas relações entre os dois países.
Desde a pandemia de Covid-19, o papel dos governadores e líderes subnacionais na política externa tem se destacado de maneira crescente. A crise global revelou as limitações dos governos centrais e a importância das ações locais e regionais. Governadores e prefeitos começaram a atuar de forma mais assertiva na formação de políticas externas regionais, buscando parcerias diretas e estabelecendo uma presença ativa nas relações internacionais. Essa mudança reflete uma adaptação necessária em um cenário onde os governos centrais muitas vezes são vistos como incapazes de lidar com crises multifacetadas de maneira eficiente.
A abordagem de Kiciloff, ao buscar relações diretas com o Brasil, surge como uma resposta ao contexto de tensões nacionais. Ao enfatizar a importância de uma cooperação prática e produtiva, Kiciloff está desafiando a política externa ideológica de Milei ao promover uma agenda que tende a beneficiar a província mais rica e importante da Argentina. O impacto dessa nova dinâmica é significativo. Quando governadores e líderes subnacionais se tornam protagonistas na política externa, eles têm a capacidade de fomentar a estabilidade regional e promover a cooperação econômica de maneira mais eficaz.
Em um momento em que a política internacional muitas vezes é marcada por divisões ideológicas, a liderança regional pode oferecer uma abordagem mais prática e orientada para resultados. A visita de Kiciloff a Brasília não é apenas um exemplo dessa tendência, mas também um indicativo de que a cooperação e o pragmatismo podem superar as barreiras impostas por agendas políticas com visões estreitas.
*Guilherme Frizzera é doutor em Relações Internacionais e coordenador do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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