Na medida em que avançamos 2024, muito se questiona se este será o ano em que faremos avanços substanciais na saúde das mulheres, ruma à redução da lacuna de gênero, de modo que toda mulher seja tratada com o devido respeito e receba os cuidados de saúde essenciais que merece. O ano de 2023 apresentou enormes desafios e motivos de preocupação, mas devemos esperar que 2024 seja diferente? Ao que parece, todos concordam que investir na saúde das mulheres é um passo fundamental para o desenvolvimento humano, mas a realidade continua dura para elas.
Atualmente, as mulheres representam 49,75% da população mundial, de acordo com as Nações Unidas (2023), mas suas necessidades de saúde continuam negligenciadas. Os esforços para cuidar das quase quatro bilhões de mulheres são enormes e, em 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu seis prioridades para a saúde feminina na tentativa de superar os vários desafios que as mulheres e meninas enfrentam para obter cuidados de saúde adequados (World Health Organization, 2023).
A agenda incluía acesso a saúde sexual e reprodutiva de qualidade para todas, prevenção da violência contra as mulheres e prevenção de doenças não transmissíveis (DNT), como a obesidade. Ampliar a participação das mulheres em cargos de liderança, tanto na ciência quanto na saúde pública, também é um item importante na agenda e que ainda não foi cumprido
A infertilidade e uma ampla gama de doenças, como endometriose, miomas e sintomas da menopausa, precisam urgentemente de atenção. Uma em cada seis pessoas enfrenta infertilidade de acordo com o último relatório da OMS. O acesso ao diagnóstico e tratamento adequados permanece restrito a apenas algumas pessoas, mesmo em países desenvolvidos. Barreiras financeiras e geográficas limitam o acesso a tratamentos avançados como a fertilização in vitro (FIV) e podem aumentar ainda mais a lacuna de gênero, já que as mulheres tendem a carregar o fardo da infertilidade sozinhas.
A capacidade de criopreservar gametas e embriões resultou em importantes opções reprodutivas. Ela deu a indivíduos que enfrentam a possível perda da capacidade reprodutiva, como aqueles que recebem tratamento médico gonadotóxico devido a um câncer, a chance de ter filhos biologicamente relacionados no futuro.
Embora o primeiro nascimento humano a partir de um oócito previamente congelado tenha ocorrido em 2011, técnicas laboratoriais como a vitrificação levaram a uma melhora significativa na eficácia da criopreservação de oócitos (CO). Um número crescente de mulheres está buscando a CO planejada, além de um número crescente de médicos que acompanham essa demanda.
Além disso, a CO planejada amplia as opções reprodutivas para homens transgêneros, que enfrentam a perda de gametas femininos no processo de transição. Outo avanço é da criopreservação (congelamento) de espematozoides quando há um desejo de postergar a gestação, ou mesmo antes de realizar a vasectomia como método definitivo de contracepção.
A fertilidade deve ser igualitária entre pessoas cisgênero e transgêneros
É fundamental reconhecer e abordar as necessidades específicas de saúde reprodutiva das pessoas transgênero que, apesar dos avanços na medicina, ainda enfrentam dificuldades para acessar cuidados relacionados à fertilidade. Isso inclui questões como acesso a terapias hormonais adequadas, acompanhamento médico durante a transição de gênero e apoio durante processos de fertilidade.
Além disso, é crucial que os sistemas de saúde ofereçam opções reprodutivas inclusivas, como a criopreservação de gametas, que podem permitir que homens trans mantenham a opção de ter filhos biológicos no futuro, mesmo após a transição de gênero.
Outro aspecto crucial é a de inclusão das necessidades únicas das pessoas transgênero em nossas discussões e políticas de saúde. Isso não apenas promoverá a equidade em saúde, mas também garante que todos tenham a oportunidade de construir suas famílias de maneira segura, eficaz e acessível.
Reforçamos e reiteramos a frase do Dr. Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS: “A grande proporção de pessoas afetadas mostra a necessidade de ampliar o acesso aos cuidados de fertilidade e garantir que esse problema não seja mais deixado de lado nas pesquisas e políticas de saúde, para que as pessoas, que desejam, tenham formas seguras, eficazes e acessíveis de ter filhos”.
(*) Dr. Onel Alejandro Goitia é graduado pela Universidad Del Zulia. O ginecologista atualmente atua na área de reprodução humana na Feliccita, Instituto de Fertilidade, Curitba-PR. Comprometido com a prestação de assistência de qualidade, ele aplica seus conhecimentos e habilidades para atender às necessidades dos pacientes, contribuindo para a excelência nos cuidados de saúde.
Dr. Alvaro Pigatto Ceschin
(*) Dr. Alvaro Pigatto Ceschin é especialista na área de Reprodução Humana Assistida, com ênfase em oncofertilidade, congelamento de óvulos e tecido ovariano. Atualmente é presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida – SBRA, é professor doutor pela Faculdade Evangélica do Paraná e Diretor da Feliccita, Instituto de Fertilidade, em Curitiba-PR.