Empoderamento feminino? Tenho ranço!
Fernanda Mendonça, criadora de conteúdo digital, questiona sobre o uso equivocado do termo em inglês pela sociedade
Quem são as mulheres empoderadas, afinal? A mentora Fernanda Mendonça propõe desmistificar essa condição, da forma com tem sido disseminada ultimamente. E a especialista em educação e transformação de mulheres empreendedoras sentencia: “Tenho ranço dessa nomenclatura, que na minha percepção está muito linkada a certos tipos de movimentos, que não me representam e com os quais não concordo”.
Mas, como surgiu essa qualificação? Empoderamento – erroneamente traduzido – vem do inglês ‘empowment’, usado no contexto empresarial. “Na verdade é um termo mau traduzido, ligado à administração de empresas, quando se fornecem recursos, autoridade e oportunidades para que os colaboradores possam realizar seu trabalho. Contextualizando, o ‘empowerment’ tem quatro pilares: do poder, claro, mas também de liderança, motivação e desenvolvimento. Então, quando certos movimentos atribuem o termo como ‘poder feminino’ é totalmente equivocado”, explica a mentora.
“E por que eu tenho ranço? Porque não tem como um ser humano ‘empoderar’ outro ser humano. Trazendo para o meu segmento – trabalho com mulheres – às vezes ouço coisas como ‘Fernanda empodera mulheres’, e eu digo ‘jamais’! A Fernanda se empodera todo dia; a todo instante eu estou me empoderando”.
Ela diz que o desconhecimento da palavra-chave levou ao equívoco, reverberando de qualquer forma, em qualquer contexto; e não acredita que uma mulher empodere outra mulher. “Isso, pelo simples fato de que todas nós já nascemos com poder, temos atribuído em nós nossas habilidades, capacidades – e vale para o homem também, mas aqui me refiro ao contexto feminino – não existe nenhuma mulher que não é dotada, desde nascença, de algum poder. O que pode acontecer é que, durante a caminhada da vida (com frustrações, mazelas, traumas) ela não consiga perceber esse poder. Aí vale um trabalho mais específico, de autoconhecimento, nas áreas médica e psicológica. Então, não existe ‘empoderamento feminino’, porque todas somos empoderadas, temos poder. Somos, sim, poderosas!”, ressalta.
Fernanda Mendonça defende que mesmo a mulher tendo poder, lá atrás disseram a elas que não era assim. “Em algum momento acreditaram nisso. Quando falo em poder é onde for, onde ela quiser. Ela pode ser CEO de uma grande multinacional, uma empreendedora, política e pode ser também a mulher dona de casa. Todas elas têm poder igualmente”.
Para a mentora de mulheres, a sociedade gosta muito de reconhecer poderes femininos a somente lugares com ‘destaques sociais’: a comandante de um batalhão, a senadora, a CEO da empresa tal… “Não! A mulher que pega trem todo santo dia, que trabalha como diarista, passa dez horas do dia fora para sustentar seus filhos e volta para casa, como chefe de família, ela tem poder! Empoderar-se é uma habilidade que a mulher, no dia a dia, principalmente no mundo em que vivemos hoje, está se adequando”, diz a influenciadora.
E questiona: “Será que eu tenho de gerir tudo ao mesmo tempo? Será que a mulher tem que dar conta de tudo, tem que ser boa o suficiente e alcançar as expectativas em tudo? Tenho que reconhecer: estamos aprendendo a ser assim; se vai ser saudável, lá na frente a gente vai ver. Aliás, já vemos isso, com o tanto de mulheres doentes emocionalmente, porque têm de gerir todas as áreas da sua própria vida. O certo é que, gerindo tudo ou não, ela tem poder!”, finaliza.