Uma análise da YouGov, multinacional de pesquisa on-line, mostra que os rumores de falência da Gol têm tido um impacto limitado até o momento no Brasil. Dados da ferramenta YouGov BrandIndex, que monitora quase 400 marcas no país diariamente, mostram as oscilações num intervalo de oito dias.
A pontuação de Buzz da Gol era de 21,5 pontos em 10 de janeiro. Já em 18 de janeiro, oito dias depois e no último dado disponível na plataforma, a pontuação era de 20,3. Esse indicador reflete quantas pessoas ouviram algo sobre a marca em notícias, redes sociais ou com amigos e familiares, além de quão positivas (ou negativas) foram essas histórias. David Eastman, diretor-geral da YouGov na América Latina, diz que a falta de uma variação mais significativa sugere que, até agora, o rumor de falência da companhia aérea não afetou sua imagem.
“No entanto, existem indícios de que os problemas da companhia aérea estão apenas começando. Antes do relatório sobre a possível falência, a Gol estava apresentando uma tendência de crescimento, após ter perdido vários pontos no indicador de Buzz em 12 de janeiro. A partir do dia 17, exatamente quando a companhia aérea emitiu seu comunicado de esclarecimento, há uma clara mudança de tendência. Isso pode ser interpretado como uma reação negativa do público brasileiro à confirmação de seus problemas financeiros”, comenta.
Essa súbita queda não se limita apenas ao indicador de Buzz. Eastman explica que o índice é um dos dados mais voláteis do BrandIndex e, portanto, nem sempre reflete desafios (ou oportunidades) fundamentais para os negócios a médio ou longo prazo. Medidas como Reputação corporativa, Recomendação, Consideração, Impressão geral e Satisfação do cliente mostram mudanças mais profundas na percepção do público em relação à capacidade e atratividade comercial das empresas.
Em todos esses indicadores, a resposta da Gol aos rumores de falência parece ter tido o mesmo efeito que no Buzz: uma mudança de tendência para baixo. Em todos os casos, a pontuação da empresa parece ter superado os rumores sem grandes ajustes. E em todos os indicadores, entre 17 e 18 de janeiro, pode-se perceber uma clara queda na avaliação da empresa. “Embora seja necessário mais tempo para confirmar se é um efeito persistente ou não, representa uma possibilidade perigosa para uma das maiores companhias aéreas do Brasil”, diz.
Outras companhias aéreas brasileiras aproveitam a crise da Gol
A crise da marca não passou despercebida pelos seus principais concorrentes na indústria, LATAM e Azul. Pelos dados da YouGov, nenhuma das duas companhias aéreas viu uma grande mudança em suas pontuações de Buzz desde que os rumores sobre o processo de falência da Gol começaram. Nem mesmo parece que a resposta oficial da Gol em 17 de janeiro teve algum efeito, seja adverso ou não, na percepção do público. Isso parece descartar, pelo menos por enquanto, uma crise para toda a indústria a curto prazo.
“O que pode ser observado é um possível impulso nos negócios da LATAM e Azul em decorrência da crise de sua concorrente. Em suas avaliações de Reputação corporativa e Consideração, especialmente esta última, as concorrentes da Gol começaram a adotar uma tendência de crescimento nos dias seguintes aos rumores. Até o momento, a Gol ainda as supera por vários pontos nesta medição do BrandIndex, e não está claro se esse avanço pode ser mantido a médio prazo”, comenta Eastman.
No entanto, representa uma oportunidade para que LATAM e Azul possam desferir um golpe crucial na Gol, segundo análise do executivo. “As cifras sugerem que os consumidores estão começando a considerar outras companhias aéreas, mesmo quando ainda não está claro se a Gol conseguirá superar com sucesso o processo de reestruturação financeira e possível falência. Nesse sentido, os próximos meses podem ser decisivos para as três companhias aéreas brasileiras. Para a Gol, será uma prova para ver se consegue manter sua atual posição como uma jogadora importante no mercado. Para LATAM e Azul, é uma oportunidade para ultrapassar sua rival”, finaliza.