O número de mulheres que fazem uso indiscriminado de hormônios masculinos vem crescendo no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, 1,6% da população feminina utiliza testosterona e seus derivados sintéticos. Reposição hormonal justifica parte das prescrições dos androgênios. Outra parte das mulheres tem neste hormônio um recurso para aumentar a libido e também para ganho de massa muscular e melhora da estética corporal. “Embora não existam estudos com alto rigor científico, acreditamos que o uso indiscriminado de androgênios tem potencial para aumentar o risco de câncer de mama”, alerta o mastologista Guilherme Novita, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
A reposição de testosterona é claramente indicada em diagnósticos de hipogonadismo, condição que afeta a fertilidade masculina. Também é recomendada em terapias para redesignação sexual em homens transgêneros. O uso em mulheres, segundo o especialista da SBM, é controverso e contraindicado por agências reguladoras de diversos países, inclusive pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
“Temos visto, com muita preocupação, a disseminação de informações, principalmente por meio de redes sociais, sobre o uso de androgênios por mulheres com a função de aumentar a massa muscular, definir o corpo e aumentar a libido”, destaca Novita. “Nada disso é realidade. E conceitos teóricos nos levam a acreditar no possível aumento do risco de câncer de mama e piora da doença com a utilização de hormônios masculinos.”
Mesmo diante da falta de ensaios clínicos randomizados que avaliem de maneira precisa o câncer de mama relacionado ao uso de androgênios, o mastologista considera o potencial do hormônio masculino para aumentar os riscos da doença a partir de dois mecanismos. “Temos os estímulo direto de receptores androgênicos, presentes em alguns tipos de tumor mamário”, diz. O segundo mecanismo é a “transformação do androgênio em hormônio feminino (estrógeno), através da conversão periférica mediada pela enzima aromatase e estímulo direto a receptores estrogênicos, presentes na maioria dos casos de câncer de mama.”
Alguns estudos, reforça Guilherme Novita, já demonstram maior incidência de câncer de mama em mulheres “com níveis androgênicos séricos elevados ou em pessoas que receberam terapia hormonal androgênica para redesignação sexual”.
“A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia para todas as mulheres, diante da ausência de pesquisas que atestem a segurança do uso de hormônios masculinos, é para que não utilizem os androgênios”, destaca o especialista. A mesma conduta deve ser seguida por mulheres com alto risco de desenvolver câncer de mama e também pelas que têm baixo risco. Para este segundo grupo, a utilização em situações necessárias deve ser feita sob rigorosa supervisão médica e após ampla discussão com a paciente.
“Por fim, é importante alertar sobre a ausência de riscos ou possível proteção mamária através do uso de androgênios, como vem sendo apregoada por leigos na mídia e em redes sociais. Com base em dados científicos atuais, estas informações são incorretas e não devem ser repassadas à população”, conclui o diretor da SBM.
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