A primeira queda do preço do leite pago ao produtor foi registrada em maio. Desde logo o valor do resultado segue caindo. O revérbero disso é que, nas prateleiras do mercado, o consumidor sente que leite de vaca e derivados, uma vez que queijo, manteiga e iogurte estão um pouco mais baratos.
O valor médio do litro pago ao produtor está em R$ 2,25 na “Média Brasil” no final de setembro. O que é 29,4% menor do que o preço pago aos produtores no mesmo período do ano pretérito e representa uma queda real acumulada de 13,6% desde o início de 2023. Os dados são do Cepea (Meio de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Três fatores principais puxam essa queda:
- Demanda enfraquecida: o mercado não está absorvendo preços tão altos. As baixas nos valores tendem a aquecer novamente o setor;
- Importações elevadas: com preços mais competitivos que os praticados no Brasil, o maior volume do resultado importado faz com que o preço interno caia;
- Menor dispêndio de produção: desde janeiro, ração e suplementação estão mais baratos — com isso o produtor consegue investir mais, suplementar mais o bicho e a disponibilidade de leite aumenta.
Segundo a pesquisadora do Cepea Ana Paula Negri apesar das quedas serem positivas para o consumidor, para o produtor é um sinal de alerta.
“Ele ganhando menos, a margem dele acaba ficando mais apertada. Então esse investimento que ele precisa ter na atividade — neste curto prazo — fica mais difícil e o produtor investe menos por estar ganhando menos. Investindo menos, acaba produzindo menos leite” explica a pesquisadora.
Subida nas importações representa maior impacto
De janeiro a agosto deste ano, o Brasil importou 300% mais leite em pó do que no mesmo período do ano pretérito. É o que revela uma estudo feita pela zootecnista e crítico de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila.
Segundo a crítico, o aumento das importações coligado ao período de safra, acaba refletindo diretamente no preço pago ao produtor.
“Agora no pagamento de setembro, além das importações continuarem em volumes maiores do que o que registrado no mesmo período do ano passado, começamos a ter a produção no mercado nacional crescendo em algumas regiões. E esse aumento na produção acaba também refletindo.”
O que se pode esperar para os próximos meses, segundo a crítico, é uma tendência de firmeza ou até mesmo queda dos preços de leite e derivados.
Derivados mais baratos
O revérbero dessa queda nos preços do leite são as quedas em produtos derivados. A pesquisa do Cepea mostra que as médias de preços do leite UHT caíram no estado de São Paulo, 5,27% em agosto com relação a julho. A muçarela teve redução de 2,97% e o leite em pó 2,85%.
Vale observar que, na confrontação com o mesmo período do ano pretérito, os preços caíram quase 30%, em termos reais.